CRIAÇÃO
DE CORREDOR ECOLÓGICO URBANO ENTRE O LAGO PARANOÁ E AS
NASCENTES E LAGOA DA QUADRA 614 SUL, BRASÍLIA/DF
RESUMO
A criação de um corredor ecológico entre o Lago
Paranoá e as nascentes e lagoa da quadra 614 sul, Brasília/DF,
passando pelo Centro de Ensino Médio Setor Leste (Cemsl - 611/612
sul), é um dos objetivos de integrantes do Instituto de Educação
Socioambiental (Iesambi) há vários anos. Atuando junto
aos alunos e funcionários, dentro do projeto de educação
ambiental . Margem. , coordenaram a recuperação de áreas
verdes da referida escola, com o plantio de mais de 400 mudas de árvores.
Além disso, houve mobilização da comunidade escolar
para a instalação de um sistema de irrigação
por gotejamento, propiciando o controle da quantidade de água
recebida por cada muda e a economia de seu uso.
Em 2003, durante aula de campo às nascentes e lagoa da quadra
614 sul, foi constatada a limpeza da área para fins de construção
civil. A comunidade de Brasília vinha reivindicando a criação
de um parque nessa região. Com a participação ativa
de integrantes do Iesambi, alunos, professores e comunidade uniram forças
e conseguiram que o Parque de Uso Múltiplo da Asa Sul fosse finalmente
criado, faltando agora sua efetiva implantação.
O efeito multiplicador dessas atividades ultrapassa os limites da escola,
pois os adolescentes envolvidos levam os conhecimentos adquiridos para
seus locais de moradia, influindo na sensibilização de
familiares e amigos. Os 21 ha do parque e 4 ha da área recuperada
do Cemsl somam 25 ha de áreas recuperadas e preservadas na Asa
Sul de Brasília. O corredor completo, de 56 ha, facilitará
o trânsito de seres vivos entre os diferentes ambientes, garantirá
o fluxo de alunos e professores nas aulas de educação
ambiental, além da melhoria da qualidade de vida de toda a comunidade,
com a preservação desses mananciais e suas matas.
1.
APRESENTAÇÃO
O
Instituto de Educação Socioambiental (Iesambi) é
uma associação, sem fins lucrativos, de cidadãos
preocupados com o meio ambiente e que acreditam na educação
socioambiental como a melhor forma de sensibilizar a sociedade a respeito
da importância da preservação ambiental. No divisor
continental de águas surge uma proposta de valorização
do Cerrado e suas veredas.
O trabalho de conscientização dos nossos jovens em relação
aos problemas ambientais enfrentados pelo homem - cada vez mais graves
- é fundamental para que possamos reverter a crescente degradação
da água, ar e clima do nosso planeta. Ainda mais efetiva é
a união entre teoria e prática, que acontece quando eles
têm oportunidade de realizar atividades de recuperação
de áreas degradadas e proteção de Áreas
de Preservação Permanente (APPs) que fazem parte de seu
próprio ambiente.
O trabalho de educação socioambiental multidisciplinar
realizado por professores do Iesambi já obteve resultados concretos
para a criação do corredor ecológico urbano entre
o Lago Paranoá, a área em recuperação do
CEMSL e o Parque Asa Sul: dos 56 ha propostos, 21 ha estão protegidos
com a criação do Parque de Uso Múltiplo da Asa
Sul (Decreto Nº 24.036, de 10 de setembro de 2003), e 4 ha recuperados
com o plantio de árvores no Cemsl. Quanto aos 31 ha restantes,
foram realizadas consultas junto ao Departamento do Meio Ambiente do
Ministério das Relações Exteriores e fomos informados
de que na área proposta para o corredor não vai haver
construção de novas embaixadas, principalmente devido
à proximidade com a Estação de Tratamento da Companhia
de Água e Esgoto de Brasília (Caesb). Segundo a Terracap
existem poucos proprietários particulares na região e
o próximo passo será junto à Câmara Distrital,
para a apresentação de Projeto
de Lei, destinando a área para preservação,
restauração, pesquisa, utilização em aulas
de educação socioambiental e lazer.
Equipe
do Iesambi
João Couto Teixeira, Biólogo, Especialização
em Educação Ambiental - Presidente
Bella Xible, Professora de História e Filosofia - Vice-Presidente
Laura Cavalieri Bisio, Mestre em Biologia Molecular - Secretária
Peter Faluhelyi, Mestre em Física, Engenheiro, Especialização
em Ed. Ambiental - Tesoureiro
Ivan Zacarias Gobbo, Economista
Yuri Soares, Estudante
Maria Aparecida Paixão, Professora
2.
JUSTIFICATIVA
São
necessárias alternativas sustentáveis ao impacto gerado
com a construção da capital do país em região
de grande biodiversidade e nascentes das águas das maiores bacias
hidrográficas brasileiras, como a Amazônica, Platina e
São Francisco. O trabalho de motivação e sensibilização
de jovens para a importância da conservação dos
recursos hídricos do Distrito Federal é fundamental para
a restauração e manutenção do equilíbrio
ambiental, abalado com a instalação de população
representativa de diferentes regiões no planalto central do país.
O Lago Paranoá foi criado para servir como local de lazer, prática
de esportes, pesca, umidificar o ar seco de Brasília e ainda
constitui objeto de estudos, os mais variados. A preservação
das suas margens e zonas de recarga é fundamental para que continue
a cumprir sua missão ainda por muito tempo. As nascentes e lagoa
da quadra 614 sul fazem parte de sua hidrobacia e a riqueza de suas
matas é de grande importância na purificação
do ar dessa região próxima a uma estação
de tratamento de esgoto. Os ambientes límnicos são habitat
para uma infinidade de organismos e seu equilíbrio depende do
estado de preservação das suas margens e zonas de recarga.
A presença de árvores reduz o impacto causado pelas chuvas,
evitando a erosão do solo e o conseqüente assoreamento dos
recursos hídricos (Magalhães e Crispim, 2003). A infiltração
de água em solos com cobertura florestal é 40 vezes maior
do que em solos descobertos (Rezende e cols., 2000), alimentando os
lençóis freáticos. Além disso, as árvores
contribuem para a formação das chuvas através da
transpiração, originando partículas necessárias
(aerossóis) para que as nuvens se formem (Claeys e cols, 2004).
Costa, 2003 salienta a importância de pequenos remanescentes florestais,
que além de abrigar espécies vegetais e animais residentes
próprias, podem compor, juntos, um grande e valioso arquipélago
regional, facilitando o trânsito e a migração entre
remanescentes maiores e mais afastados, e aumentando as chances de persistência
em longo prazo de várias espécies.
Damschen e cols, 2006, demonstram que, quando interligadas por corredores,
áreas naturais possuem maior número de espécies
nativas do que áreas isoladas e essa diferença aumenta
com o tempo, além dos corredores não promoverem a instalação
de espécies exóticas.
O fluxo migratório entre diferentes populações
da mesma espécie é necessário para manter a variabilidade
genética dentro das comunidades e evitar a extinção
de populações isoladas, que possuem baixa adaptabilidade
a mudanças (Primack e Rodrigues, 2001).
O corredor urbano proposto pelo Iesambi procura, além da preservação
local, integrar espécies que utilizam o Corredor Ecológico
Paraná-Pirineus, de dez milhões de hectares, que abrange
os estados de Goiás, Tocantins e Distrito Federal.
3.
OBJETIVO GERAL
Despertar o interesse pelos fenômenos da natureza através
de atividades interativas que visem o desenvolvimento do seu espírito
crítico e estimulem a observação, registro, discussão,
interpretação e comunicação, de maneira
sistemática e transdisciplinar, de dados relativos aos ecossistemas
da hidrobacia do Paranoá e suas áreas de influência,
construindo alternativas aos impactos causados pelo desmatamento, suas
conseqüências na disponibilidade de água para o consumo
humano, e na manutenção da qualidade de vida, formação
da cidadania, e o estabelecimento de equilíbrio ambiental.
4.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
. Sensibilizar os alunos em relação à importância
da conservação do ecossistema da hidrobacia do Paranoá
para a qualidade de vida das futuras gerações.
. Observar as condições de balneabilidade e conservação
do lago e de ambientes de Cerrado, trazendo às salas de aulas
e laboratórios, dados coletados pelos alunos, professores e convidados.
. Levantar dados da hidrobacia do Paranoá, dos seus habitantes
e das suas relações com o desenvolvimento sustentável.
. Registrar e divulgar o resultado dos estudos de cada etapa desenvolvida
neste projeto à comunidade escolar e instituições
interessadas.
. Estudar a importância socioeconômica da conservação
e da preservação do lago Paranoá para o lazer e
o desenvolvimento do turismo na região.
. Buscar parcerias entre instituições públicas
e particulares.
. Promover a discussão sobre as vantagens do plantio de árvores
em ambientes urbanos e sua profunda relação com o ciclo
das águas.
. Recuperar e manter a área verde das escolas com o plantio de
mudas nativas.
. Produzir nas escolas mudas de plantas do Cerrado.
. Elaborar materiais didáticos a serem utilizados pela comunidade
escolar.
. Criar um banco de dados sobre a historia da região.
. Promover a aquisição de novos hábitos alimentares
destacando a importância da agricultura orgânica e a riqueza
dos frutos do Cerrado.
. Colaborar na construção de uma sociedade e escola dinâmicas
que possam acompanhar as mudanças ambientais, dentro de princípios
éticos.
5.
ESTRATÉGIAS
A) Recuperação de área degradada
1 - Sensibilização da comunidade escolar
Em 2001, plantou-se 60 árvores nativas, com disposição
linear, em média de 12m em 12m, em frente à fachada da
escola para sombrear as salas, que recebem o sol da tarde, tornando
assim o microclima mais ameno. Além disso, possibilitou-se aumentar
a biodiversidade da fauna e da flora, e tornar esteticamente mais agradável
o ambiente escolar. Com o sucesso do empreendimento e a necessidade
de minimizar a degradação da área verde, no ano
2002, plantou-se aproximadamente 400 árvores nativas e frutíferas
na área nos fundos da escola com a participação
da comunidade escolar e parcerias.
Na semana do meio-ambiente, em junho, foi feita uma campanha de sensibilização
junto aos alunos do matutino e vespertino, alertando-os para a necessidade
de acompanhamento e cuidados para com a área do plantio e suas
espécies, tais como capinas, estaqueamentos, irrigação,
etc. Também realizamos a campanha do cabo de vassoura (estacas),
adoção de mudas e mutirões nos fins de semana.
Foram feitas várias trilhas com os alunos às margens do
Lago Paranoá, para coletar sementes de espécies nativas.
Reconhecer as espécies nativas adultas, observar o tipo de folhas,
cascas, sementes e ambientes dessas espécies foi a grande conquista
dessas incursões, registradas em relatórios e fotografias
dos alunos. Inúmeras sementes de Sucupira, Jacarandás,
Jatobás, Paus-Terra, Paineiras, entre outras, estão armazenadas
aguardando o momento de germinarem.
Trabalhando o projeto pedagógico com eixo transversal Cidadania
e Ética, essas práticas fortaleceram o trabalho de conservação
do patrimônio público e facilitaram o levantamento de recursos
para a fase final do projeto, junto à comunidade, dos ramais
secundário e terciário do sistema de irrigação.
Os resultados estão registrados em vídeos, fotografias,
relatórios, coleção de sementes, mapas e outras
informações, algumas disponíveis na página
do Instituto de Educação Socioambiental (http://www.iesambi.org.br/campoavancado.htm),
para que todos os interessados participem dessa construção.
2
- Preparo do solo
Colocamos as mudas na história do Cemsl através de 144
covas abertas por uma retroescavadeira de São Sebastião,
que foram cobertas por mais de quinhentos alunos. Cada cova recebeu
um carrinho-de-mão de adubo da Caesb e duas ou três mudas
de árvores, a maioria nativa do Cerrado, além de diferentes
sementes de árvores locais. As mudas foram doadas pela Novacap,
Parque Olhos d'Água, UnB e Chácaras Geranium e Pau d'Óleo.
3
- Plantio e cuidados com as mudas
O mapa dendrológico dos jardins frontais e internos da escola
(Anexo III) foi apresentado como trabalho final, na disciplina de Dendrologia,
por um ex-aluno da escola que ingressou no curso de Eng. Florestal da
UnB, e representa para nós um dos frutos do trabalho de educação
socioambiental de professores do Iesambi.
Foi feito um trabalho de sensibilização de alunos em relação
ao Campo Avançado do Setor Leste, por meio de visitas com informações
e identificação das futuras árvores, coleta de
sementes e o trabalho de manutenção das mudas, como capina
e irrigação, junto com a comunidade escolar. Além
disso, vários grupos de estudantes adotaram mudas, responsabilizando-se
pelos seus cuidados (fotos na próxima página).
A formação de parcerias também contribuiu para
aumentar a área recuperada. O lançamento do programa do
Ministério do Meio Ambiente (MMA) . Vamos Cuidar do Brasil: Bioma
Cerrado. foi feito no dia 14 de dezembro de 2004, no Cemsl, com a implantação
de um . Módulo Demonstrativo de Recuperação do
Cerrado. , de 1 ha, coordenado pelo Dep. de Engenharia Florestal da
UnB. (notícia
aqui).
Projeto
completo
Preparação
de placas de identificação das mudas pelos alunos
4
- Irrigação por gotejamento
Foi elaborado um projeto em papel vegetal que está sendo digitalizado
para AUTOCAD 14, amplamente discutido entre professores e na comunidade,
com disposição linear das árvores, em média
de 12 m em 12m nessa área de fundos de 290 m x 90 m, que tem
26.100 m2. Essa disposição das árvores favorece
também, a prática da educação física
no local. Na preparação, piqueteamos as covas que foram
abertas com retroescavadeira, utilizamos lodo ativado como adubo e mudas
selecionadas pela comunidade. Portanto, a comunidade participa dos objetivos
gerais e específicos do projeto. Trabalhamos com muita ênfase
na execução do sistema de irrigação que
mostrou ser o mais sustentável possível, do ponto de vista
ambiental e econômico, chamado de irrigação por
gotejamento. A disposição das tubulações
é realizada com uma rede linear interligada com três ramais
a considerar: principal, secundário e terciário. O sistema
está preparado para fornecer uma vazão de 10 L / hora
para cada árvore, assim não sobrecarrega o sistema de
abastecimento de água da escola (esquema feito pelo Prof. Peter
Faluelyi abaixo).
B)
Criação do Parque de Uso Múltiplo da Asa Sul
As aulas de campo até as nascentes e lagoa da quadra 614 sul,
Brasília, sempre foram motivo para análises e debates
a respeito de poluição ambiental, pois o local era utilizado
como depósito de lixo. Alem disso, desenvolvemos a análise
social com os alunos, por meio das conversas mantidas com os moradores
informais da região, a maioria pessoas que trabalham com esse
lixo. Durante uma dessas aulas, em 11 de agosto de 2003, constatamos
a devastação da região ao redor das nascentes e
da lagoa, com fins de construção imobiliária, pois
inclusive alguns buracos para as fundações de uma faculdade
já tinham sido abertos. Professores, alunos e funcionários
de escolas próximas, como o Cemsl, Marista e Iesb, o Fórum
de ONGs Ambientalistas do DF e várias associações
de moradores vinham reivindicando a criação de um parque
nessa região, Área de Preservação Permanente
(APP), desde 2001. Com a iniciativa do Iesambi, a comunidade uniu forças
e conseguiu que o Parque da Asa Sul fosse criado: Decreto n. 24.036,
de 10 de setembro de 2003, publicado em 11 de setembro, Dia do Cerrado.
Foram necessárias duas mobilizações populares e
uma reunião pública marcada para ocorrer na Câmara
Distrital para que esse patrimônio natural de Brasília
fosse preservado. Benefício para todos habitantes dessas matas
e do Lago Paranoá, além de estudantes, professores e moradores
de todo o planeta, que hoje têm mais uma opção de
estudo e lazer garantida, apesar de ainda não implantada, e maior
qualidade de vida.
Parque
de Uso Múltiplo da Asa Sul, Brasília/DF
Foto
de satélite - Google maps da lagoa do parque.
6.
PROJETOS FUTUROS
Para
sua efetiva implantação é necessário o desenvolvimento
de um plano de manejo para o Corredor Lago Paranoá / Parque Asa
Sul, com a caracterização do local, tanto dos seus componentes
físico-químicos - tipo de solo, quantidade e constância
das chuvas, declividade, intensidade luminosa - como biológicos
(fitofisionomias, fauna, flora, etc). A escolha das espécies
que serão plantadas será feita baseada em (1) pesquisas
das encontradas na área do corredor e arredores, (2) dados de
abundância, dominância e freqüência obtidos por
Nunes e cols, 2002, (3) sugestões de Felfili e cols., 2002, e
(4) espécies agrupadas por categoria de exigência luminosa
em Felfili e cols., 2000.
A obtenção das mudas poderá ser feita através
de compra, doações e cultivo, utilizando sementes coletadas
dos indivíduos adultos da área do corredor e arredores.
O plantio será baseado em modelos de recuperação,
com técnicas de espaçamento e distribuição
das mudas, determinadas dependendo da declividade do terreno, composição
do solo e vegetação já existente. Além do
plantio direto, também serão utilizadas as técnicas
de nucleação abordadas por Reis e cols, 2003 e a proteção
com estacas das mudas nativas que rebrotam entre o capim.
Com o objetivo de inspirar, disponibilizar informações
e dar assessoria para a criação de projetos semelhantes
pretendemos ministrar Cursos
de Metodologias e Práticas de Ensino em Educação
Socioambiental a professores de diversos níveis (http://www.iesambi.org.br/margem_arquivos/projetos/cursoprof.htm
). A criação de viveiros em escolas de todo o DF poderia
ser estimulada com a distribuição de kits com material
básico necessário para professores interessados. Isso
seria muito importante para a multiplicação de atividades
de recuperação e preservação de áreas
verdes urbanas. A coleta de sementes, preparação das mudas,
plantio e cuidados poderiam ser coordenados a partir das instituições
de ensino envolvendo professores, alunos e comunidade.
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