Sou
Mestiço
Onça-Tigre
Sou mestiço, sim senhor
Sem
pretensões de pureza
Eu sou plebe, sem nobreza
Puxei isto a meu
avô
Sua cor não desbotou
Filho deste continente
De africano
descendente
Nascido português
E do índio, todos os três
Mesclaram-se naturalmente
Pedro
Álvares Cabral
Aportou lá na Bahia
Onde o índio existia
Como filho natural
Descoberta emocional
No tempo da renascença
Na Europa era imensa
A luta dos navegantes
Por estes mares atlantes
Em busca de recompensa
Da
África veio o terceiro
Pra aumentar a produção
Da
negra população
Deste povo brasileiro
Cujo sangue altaneiro
Nas veias corre sereno
Igualzinho ao nazareno
Que nasceu há dois
mil anos
Sofreu
o africano
Como um Cristo moreno
Muita riqueza criou
Durante a escravidão
Este negro nosso irmão
Que o branco seqüestrou
Foi grande
trabalhador
Nos garimpos e na roça
Seu
sangue puro reforça
Esta miscigenação
Da cor fumê
de carvão
Característica de força
Sua cor até
desbota
Esmaece no mulato
Não tenho o menor recato
Da descendência
ignota
Todos
são compatriotas
Outra postura não banco
Jamais neguei,
sou franco
Afinal é meu irmão
Componentes de ação
O negro, o índio e o branco
Já
na quinta geração
Mulato, mameluco
E o cafuzo formam o suco
De toda caldeação
De ponta a ponta a nação
Sem o menor preconceito
Deitou-se no mesmo leito
Pra procriar no Brasil
Um povo bom e viril
Merecedor de respeito
Sou
cafuzo, sou mulato
Puxado a mameluco
Não sou híbrido eunuco
As leis de Mendel acato
Das três raças sou retrato
Pelo direito
trabalho
Não sou novo, sou grisalho
Com denodo e coragem
Assumo
a mestiçagem
| Milton
Freire de Carvalho |