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O Direito

I
Da justiça santuário
Guarda no seu frontispício
Retrato do Sacrifício
Da vida do operário
No sofrer igualitário
Dividido em turmas várias
Todas elas proletárias
Na construção do castelo
Misto de verde e amarelo
Não se nega, são uns párias
V
Humilde sem preconceito
Assoma um vulto: quem é?
- Sou eu que ainda estou de pé
Responde, calmo, o Direito
Andei por caminho estreito
Desde as mais remotas eras
Já convivi com as feras
Junto aos homens primitivos
Já livrei muitos cativos
Presos aos grilhões das galeras

IX
CLovis e Pontes de Miranda
Foram dois jurisconsultos
Talvez os maiores vultos
Na roda desta ciranda
Quando o fulcro é demanda
Se colocaram em defesa
De toda aquela pobreza
Que lutava na Justiça
Para os livrar da cobiça
Com todo ardor e nobreza
II
No recôndito deste trono
Tendo o direito por rei
Sob os auspícios da Lei
Seja o seu dado ao seu dono
E a equidade em abono
Obedecendo o anelo
Da balança e do cutelo
Que Themis traz sob a mão
E São Ivo, o guardião
Da pena, toga e martelo
VI
Nasci de um gesto Divino
Na formação do universo
Estimulei o progresso
Andei como um peregrino
Modifiquei o destino
De todos os povos do mundo
Numa fração de Segundo
Num gesto meu, num arrobo
Transformo a face do globo
Sou o primeiro, sem segundo
X
O defeito é do regime
Nesta luta sem quartel
Na amargura do fel
Aí tudo se exprime
Quer no sabre ou no florete
O pobre cai no porrete
Na luta pela verdade
Procede com lealdade
E não passa de um mandarete


III
Como esboçando um ensaio
Duas estátuas de bronze
Uma erguida ao dia onze
Outra em primeiro de maio
Com a pujança do raio
Uma enfrentando a caneta
A outra a picareta
Cada qual é mais capaz
e ambas sustentam a paz
No bojo deste planeta

VII
Presto conta ao criador
Dos meus atos, do que faço
Nunca encontrei embaraço
Seja o problema onde for
Faço tudo com amor
Dedicação e carinho
Não se perde no caminho
Quem procurar meu abrigo
Separo o joio do trigo
E cada ave, seu ninho
XI
Na cadência do martelo
Seja qual for a peleja
Não se alcança o que se almeja
Na contenda, no duelo
E no final deste prelo
Perde na primeira instância
Independe a circunstância
No proceder da razão
Lhe digo de antemão
Vem de cima a concordância
IV
São colunas que mantém
O equilíbrio da Terra
Capazes de evitar a guerra
Propiciando o bem
Sempre sem olhar a quem
Prodigalizam bonança
Uma concha da balança
Guarda o suor dos fiéis
Outra as Tábuas de Moisés
Onde a Justiça se alcança
VIII
Para o rico e potentado
Haja sempre o que houver
Seja homem ou mulher
Não tem mancha, nem pecado
Vivendo sempre no fado
Dentro desta burguesia
É grande a mordomia
Enquanto o pobre padece
E ninguém o reconhece
Na labuta e na porfia
XII
O direito foi vazado
Na Lei acordum e doutrina
Da teoria latina
Ele não foi aculturado
Em toda parte do mundo
Cujo saber profundo
Que ditou Calamandrei
Um grande mestre da Lei
Um primeiro em todo o mundo
  
XIII
Mas o tempo já mudou
O rio deixou seu leito
Na justiça e no direito
A Lei também desviou
Da trajetória do amor
Que sempre manteve a rota
Segui em direção ignota
Só Deus sabe para onde
Em que coração se esconde
E na direção que se bota
Milton Freire de Carvalho

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