Mestre
Arraia
Brasília 15 de janeiro de 2005.
Aos camaradas:
Mestre Arraia, que no início da década de 1960 ensinava
capoeira no Elefante Branco
em Brasília faleceu no dia 14 deste mês de janeiro de 2005
em Porto Seguro - Bahia.
Aldenor Benjamim, nome do Mestre Arraia, abriu caminho para muitos que
depois
enriqueceram o país, a partir de Brasília, com a cultura
da resistência mandinga.
No seu entendimento era esta a cultura que se confundia com a própria
brasilidade
identitária, originada nos sertões do século XVI:
nas matas da liberdade negríndia,
portanto - nas caá-apuan-êra - nos quilombos, nas senzalas
e nas prisões da
colônia; tal como era a visão mítica e histórica
do Mestre de Brasília,
referindo-se filosoficamente a civilização mestiça
que contribuía com o mundo, dada
a interculturalidade e a alteridade, precoces, do Brasil para o mundo.
Mestre
Arraia contribuiu com a vida política do país por meio
de seu idealismo e
cosmovisão - no termo que gostava, impressionando ilustres figuras
públicas, que
viveram na capoeira uma dimensão de suas formações:
Geraldo Mesquita, Rodrigo
Rollemberg, Aluízio Mercadante (o Quarentinha) e Flaviano Mello,
políticos e
parlamentares brasileiros, entre os da atualidade. O Mestre de Brasília
deixou
admiradores, amigos e discípulos. Em Brasília e pelo mundo
a fora. Entre outros
fatos culturais, contribuiu para que a resistência mandinga crescesse
no Brasil e
desse a volta ao mundo, a partir dos anos 1960. Ele foi o primeiro capoeira,
que se
tem notícia na história, a levar a brincadeira para a
escola pública. Eram nos
tempos da bossa nova, do cinema novo, dos afro-sambas e da ditadura.
Mas eram,
também, tempos de Brasília, a Nova Capital no sertão!
Eram tempos de subsistência,
culturalmente profícua, mas de luta difícil, a partir
da qual formou mestres como
Tabosa, Fritz e Barto, e
por conseqüência Adilson, além
de Zulu, Gilvan e Skisito, entre muitos outros; além de participar
indiretamente e
por extensão da produção do Olodum e do Olodumare
(1970), na formação do grupo
Senzala e na iniciação de Peixinho.No início da
década de 1960, Aldenor Benjamim, o
Mestre Arraia, vivia intensa atividade cultural em Brasília,
tendo realizado
exibições importantes no Clube do Congresso, no Teatro
Nacional e no Hotel Brasília
Palace. Aldenor participava de diversas promoções artísticas
e políticas da cidade,
sendo amigo pessoal de Honestino Guimarães. No programa de rádio
"Rapsódia da
Cidade" desenvolveu pensamento e animação cultural,
marcantes naquele período.
Mestre Arraia foi, como baiano, um precursor da capoeira contemporânea,
por sua
formação simultânea a partir da Regional de Mestre
Bimba e da Angola de Pastinha;
treinara com Ubirajara (Mestre Acordeon), com Mestre Sena (da Senavox
/ Capoeira
Estilizada - 1960), com Gildo Alfinete e Robertinho S. Aldenor Benjamim,
que era
filho mais velho de um dos mais importantes ministros negros da República
- o
deputado Amaurílio Benjamim - foi casado com a socióloga,
profª. Doutora Fernanda
Sobral (UnB), com quem teve seus dois filhos, Ali e Marina. Arraia fez
sua passagem
na semana do Senhor do Bonfim.
por Claudio (Danadinho) Queiroz