Grito
de Carnaval e Liberdade
Criada em uma brincadeira de carnaval, a instituição
Menino da Ceilândia consolida-se como Ponto de Cultura que
transforma a vida de jovens e adultos da cidade. Alguns abrem o próprio
negócio
ADAIR
OLIVEIRA Cadu Gomes/CB/D.A Press - 25/2/06
Uma
filipeta mudou a vida do jovem Geovani Marques, 25 anos. Naquele pequeno
papel, havia o convite para participar de oficinas gratuitas. Ele seguiu
o chamado e foi parar no Ponto de Cultura Menino de Ceilândia, localizado
na QNM 3, de Ceilândia Sul. Lá, fez o curso de serigrafia
e, dois anos depois, estava diante de um sonho realizado: ter o próprio
negócio. Criei a minha marca de skate, a ZNC. Além
da confecção de adesivos, camisetas e logomarcas, passei
a investir na produção de eventos, como a realização
de campeonatos da modalidade na cidade, comemora.
Vilanir Cardoso, 36 anos, também trilhou o mesmo caminho do novato
empresário Geovani. Mal ela acabou de terminar os cursos de estilismo
e corte e costura, ministrados pelos monitores da instituição,
e viu os clientes duplicarem. Os três meses de oficina aperfeiçoaram
um trabalho que eu já executava. Senti o ânimo para abrir
o meu próprio negócio, aponta.
Geovani e Vilanir são dois de centenas de jovens e adultos beneficiados
pela instituição Menino da Ceilândia, que nasceu de
uma brincadeira de carnaval. Em 1995, amigos se reuniram para botar o
bloco na rua. Sentiram a necessidade de atividades culturais e descobriram
no festejo popular a chance para trocar conhecimentos. Formaram então
uma espécie de oficina para criar bonecos mamulengos, fantasias
e adereços. Discutiram também a história do carnaval
e as diferenças entre as regiões brasileiras. Além
do desejo de brincantes, havia uma preocupação social e
política. A ideia de batizar o bloco de Menino da Ceilândia
era para chamar a atenção sobre a quantidade de meninos
e meninas que se tornavam pais na adolescência,
conta o presidente Airton Velez.
Até virar Ponto de Cultura, uma década depois, o trabalho
foi de formiguinha. Airton lembra que esse processo foi empolgante. Ficamos
espantados com a quantidade de gente que chegou no primeiro momento. Vieram
60 pessoas. Fizemos uma festa empolgante. Depois, as próximas turmas
aconteceram, por meio da participação em editais lançados
por instituições públicas e empresas privadas,
aponta.
Carnaval de rua
Como os desfiles das escolas de sambas de Brasília ocorrem em Ceilândia,
a instituição pautou as ações no carnaval
de rua. O título de Ponto de Cultura permitiu a sistematização
dos trabalhos. Desde a oficialização, mais de mil alunos
foram beneficiados com os cursos oferecidos. Antes de sermos aprovados
no programa Cultura Viva, não tínhamos sede fixa. Por isso,
os trabalhos eram realizados nas casas dos fundadores da associação.
A falta de equipamentos para ministrar as oficinas era outra dificuldade.
Depois que ganhamos esse edital, tivemos condições de oferecer
mais do que somente o bloco de carnaval e alguns trabalhos com os moradores
de Ceilândia, conta Ailton. Um exemplo é a Orquestra
Menino da Ceilândia, projeto que tem chamado a atenção
tanto dos organizadores quanto da comunidade. Criado há um ano,
o grupo de instrumentistas de sopro é formado por 15 alunos do
curso de musicalização. Os aprendizes, alguns encaminhados
para o mercado, contam com a regência do maestro Fabiano Medeiros.
Não haveria condições de termos essa orquestra
se não tivéssemos a estrutura que o Ponto de Cultura nos
deu, ressalta Ailton Velez. Ao longo dessa década, o Menino
da Ceilândia realizou, sobretudo, parcerias, como ferramenta chave
para oferecer oportunidades aos moradores da Ceilândia. A ONG Programando
o Futuro, por exemplo, procurou o Ponto de Cultura para a criação
da incubadora Economia de Cultura. O projeto piloto permitiu a formação
de empreendedores culturais. A iniciativa de um ano reuniu 400 participantes.
Eles aprenderam sobre logística, captação recursos
financeiros, negociação com fornecedores, tipos de locais
para a realização de eventos.
FIQUE
DE OLHO
» Atualmente, 200 jovens estão matriculados nos cursos de
música, serigrafia e corte e costura. O Ponto de Cultura já
capacitou também alunos nas áreas de artes plásticas
e estilismo. Em julho, haverá oficinas diversas como frevo, música,
corte e costura e serigrafia. Informações: 3373-2741.
AS OFICINAS
» LITERATURA DE CORDEL O conteúdo abrange história
do cordel no mundo e no Brasil, introdução à literatura
de cordel, rima, métrica silábica, soneto e prática
da escrita em cordel.
» ESTILISMO Oferece aulas de história da moda, introdução
de traços e desenho, conceitos básicos de moda, teoria das
cores e pesquisa de moda.
» ARTES PLÁSTICAS E CONFECÇÃO DE BONECOS
Os dois cursos ocorrem simultaneamente. Os alunos aprendem sobre modelagem
de rosto, de corpos humanos, misturas das tintas para obter as tonalidades
de cores.
» DANÇA O frevo é a base da oficina. Os alunos
terão aulas de dança popular brasileira e treinamento dos
passos que compõe a dança.
» SERIGRAFIA Introdução à serigrafia,
elaboração e criação, higiene e segurança,
conhecimento de cada tipo de cor, práticas de gravação
de telas e impressão nos tecidos.
» CORTE E COSTURA O curso é composto por disciplinas
como tipos de tecidos, modelagem e corte e costura em malha.
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