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PROJETO MARGEM 2003
Centro de Ensino Médio Setor Leste - Brasília/DF

COORDENADORES
Professores João Couto Teixeira (Biologia), Peter Faluhelyi (Física), Maria Izabel Xible (História).

GRUPO DE TRABALHO

Supervisores: professores Luis Gonzaga Lapa (diretor) e Alba Regina Ribeiro (vice-diretora); Assistente administrativo: Carla Daher, Assistentes de direção: Paulo Sérgio Leal (Física), Maricelma Arakaki Lúcio (Matemática) e Lúcia Marques Luz(Educação Física), Coordenação do projeto: professores João Couto Teixeira (Biologia) e Peter Faluhelyi (Física); Pesquisadores e educadores participantes: Maria Izabel Xible (História), Salvador Filho (mestrando em Educação Ambiental), José Acácio Viana Santos (Língua Portuguesa), Nilo Mendes (Língua Portuguesa), Elenice dos Santos Costa (Especialista em Educação Ambiental e mestre em Planejamento e Gestão Ambiental em Poluição Atmosférica no Distrito Federal ), Luiz Gonzaga (Educação Física), Vanilda dos Santos Porto (Educação Artística), Luis Henrique (Filosofia), Altidel Cardoso Soares (História), Luis Guilherme (História), Eric C. dos Santos (Sociologia) e Kátia Maria Cândida (Geografia), Lecy (Educação Artística) e Vandeilson Souza Braga (Mestrando em Química Orgânica).

PARCERIAS
Laura Cavalieri Bisio (Instituto de Educação Socioambiental - Iesambi)
Ivan Zacarias Gobbo (Associação de Capoeira do DF - Ascadf)

LOCALIZAÇÃO
Sede - Centro de Ensino Médio Setor Leste
Área de abrangência - Hidrobacia do Paranoá


I. Introdução

A inquietação com a utilização descontrolada e depredatória dos recursos naturais fez com que a comunidade criasse, em 1993, um projeto de estudos socioambientais na hidrobacia do Paranoá. Desde então, o Projeto Margem tem possibilitado aos diferentes segmentos da comunidade escolar e parcerias, observar, registrar, discutir e divulgar situações encontradas na área de influência da escola ou em outras áreas de interesse, sempre com a preocupação de interligar os estudos ao currículo escolar, horizontal e verticalmente. As aulas às margens do Lago Paranoá e em outras regiões do Cerrado, proporcionam estudos de temas do currículo escolar com a integração de diferentes áreas do conhecimento.
Em 2001, iniciou-se um trabalho de arborização com a participação dos alunos na área próxima aos primeiros blocos da escola, que resultou em sobrevida de 97% das mudas plantadas. Em 2002, prosseguiu-se com a recuperação de uma área degradada de Cerrado, localizada dentro dos limites da escola. Foram plantadas aproximadamente 300 mudas em 144 covas, em um trabalho de três meses com alunos e professores. Dando continuidade a esse trabalho, em 2003, além da manutenção das mudas, por meio de capina e irrigação, mobiliza-se a comunidade para angariar recursos a serem utilizados na compra de material para a construção e manutenção de um viveiro de mudas de espécies nativas do Cerrado, sistema de irrigação e horta.
Está demonstrado que o plantio de árvores em ambientes urbanos é vantajoso em todos os aspectos (Magalhães e Crispim, 2003). Além de preservar os ambientes naturais ainda intactos, temos que restaurar e recuperar os que foram degradados, muitas vezes por ignorância. Em razão disso, é fundamental que a escola cumpra seu papel de esclarecer e conscientizar alunos e comunidade para os problemas causados pelo desmatamento, principalmente os relacionados à água, recurso limitado na maior parte do mundo e também no Distrito Federal. Os problemas provocados pelo aumento insustentável da densidade demográfica e, em especial, a ação do homem face à sua necessidade de sobrevivência, segundo o modelo econômico vigente, exige a busca de soluções em prol de uma melhor qualidade de vida.

II. Objetivos

Objetivos Gerais

. Estimular o interesse do aluno pelos fenômenos da natureza, buscando o desenvolvimento do seu espírito crítico.
. Registrar informações, de maneira sistemática e transdisciplinar, sobre os ecossistemas da hidrobacia do Paranoá e de suas áreas de influência.
. Discutir os problemas, o impacto e alternativas de solução em relação ao desmatamento.

Objetivos Específicos

· Sensibilizar os alunos em relação à importância da conservação do ecossistema da hidrobacia do Paranoá para a qualidade de vida das futuras gerações.
· Observar as condições de balneabilidade e conservação do lago e de ambientes de Cerrado, trazendo às salas de aulas e laboratórios, dados coletados pelos alunos, professores e convidados.
· Levantar dados da hidrobacia do Paranoá, dos seus habitantes e das suas relações com o desenvolvimento sustentável.
· Registrar e divulgar o resultado dos estudos de cada etapa desenvolvida neste projeto à comunidade escolar e instituições interessadas.
· Estudar a importância socioeconômica da conservação e da preservação do lago Paranoá para o lazer e o desenvolvimento do turismo na região.
. Buscar parcerias entre instituições públicas e particulares.
. Promover a discussão sobre as vantagens do plantio de árvores em ambientes urbanos e sua profunda relação com o ciclo das águas.
. Recuperar e manter a área verde da escola com o plantio de mudas nativas.
. Produzir na escola mudas de plantas do Cerrado.
. Elaborar materiais didáticos a serem utilizados pela comunidade escolar.
. Criar um banco de dados sobre a memória da escola.
. Promover a aquisição de novos hábitos alimentares destacando a importância da agricultura orgânica e a riqueza dos frutos do Cerrado.
. Colaborar na construção de uma escola dinâmica que possa acompanhar as mudanças metodológicas, dentro de princípios éticos.

III. Estratégias utilizadas

1. Sensibilização da comunidade escolar

É preciso lembrar que no ano 2001, plantou-se 60 árvores nativas, com disposição linear, em média de 12m em 12m, em frente à fachada da escola para sombrear as salas, que recebem o sol da tarde, tornando assim o microclima mais ameno. Além disso, possibilitou-se aumentar a biodiversidade, no sentido da fauna e da flora, e tornar esteticamente mais agradável o ambiente escolar. Com o sucesso do empreendimento e a necessidade de minimizar a degradação da área verde, no ano 2002, plantou-se aproximadamente 300 mudas de árvores nativas e frutíferas na área nos fundos da escola com a participação da comunidade escolar e parcerias (figuras 1 e 2).
Na semana do meio-ambiente, em junho, foi feita uma campanha de sensibilização junto aos alunos do matutino e vespertino, alertando-os para a necessidade de acompanhamento e cuidados para com a área do plantio e suas espécies, tais como capinas, estaqueamentos, irrigação, etc. Também realizamos a campanha do cabo de vassoura (estacas) e um mutirão numa manhã de sábado. Neste dia, contamos com a nobre ajuda do Mestre Don Ivan Zacarias Gobbo, que atrelou uma âncora (figura 3) em sua camionete e abriu as primeiras valas que mapearam a irrigação por gotejamento que hoje distribui parcialmente a água nesta área (figura 4).
A professora de Filosofia, com suas turmas de 3ºs anos matutinos, fez várias trilhas às margens do lago, com o objetivo de coletar sementes de várias espécies nativas. Reconhecer as espécies nativas adultas, observar o tipo de folhas, cascas, sementes e ambientes dessas espécies foi a grande conquista dessas incursões, registradas em relatórios e fotografias dos alunos (figura 4). Inúmeras sementes de Sucupira, Jacarandás, Jatobás, Paus-Terra, Paineiras, entre outras, estão armazenadas no laboratório do Setor Leste, aguardando o viveiro de mudas para germinarem.
No momento, está-se trabalhando o projeto pedagógico do 3º bimestre como eixo transversal Cidadania e Ética. A prática do projeto Margem tem demonstrado que fortalece o trabalho de conservação do patrimônio público e já facilitou o próprio levantamento de recursos para a fase final do projeto junto à comunidade que terminará o restante dos ramais secundário e terciário do sistema de irrigação.
Todos os trabalhos de campo desenvolvidos junto com os alunos foram realizados durante as aulas de PD, que cada professor engajado com as propostas do Projeto Margem assumiu. Os resultados estão registrados em vídeos, fotografias, relatórios, coleção de sementes, mapas e outras informações, algumas disponíveis na página do Instituto de Educação Socioambiental - www.iesambi.org.br/margem.html -, parceiro do projeto, para que todos os interessados participem dessa construção.



Figura 1: Professores e alunos prepararam a terra para o plantio em ago/set de 2002. Foto: Bella Xible

Figura 2: Mudas utilizadas na recuperação, doadas pela Novacap, Parque Olhos d'Água, UnB e Chácaras Geranium e Pau d'Óleo. Foto Bella Xible

Figura 3: Âncora encontrada pelo professor João e seus alunos em aula nas margens do Lago Paranoá, Brasília/DF, 2003.

Foto Laura Cavalieri

Figura 4: A implantação do sistema de irrigação por gotejamento foi iniciada em agosto de 2003.

Foto: Laura Cavalieri.

2. Recuperação de uma área degradada em terreno da escola

2.1. Preparo do solo

Colocamos as mudas na história do projeto através de 144 covas abertas por uma retroescavadeira de São Sebastião, que foram cobertas por mais de quinhentos alunos. Cada cova recebeu um carrinho-de-mão de adubo humano e duas ou três mudas de árvores, a maioria nativa do Cerrado, além de diferentes sementes de árvores locais. As mudas foram doadas pela Novacap, Parque Olhos d'Água, UnB e Chácaras Geranium e Pau d'Óleo.

2.2. Plantio e cuidados com as mudas

Foi feito um trabalho de sensibilização de alunos em relação ao Campo Avançado, por meio de visitas com informações e identificação das futuras árvores, coleta de sementes, e o trabalho de manutenção das mudas, como capina e irrigação, junto com a comunidade escolar.

2.3. Irrigação por gotejamento

MATERIAIS
Tubulação
Ramal principal, tubo flexível preto reciclado de diâmetro 1 ¼" e extensão 300 m
Ramal secundário, tubo flexível preto reciclado de diâmetro ¾" e extensão 980 m
Ramal terciário, tubo flexível preto e reciclado de diâmetro ½" e extensão 904 m

Conexões
200 gotejadores PVC DAC Multifunção
5 registros de esfera PVC DAC rosca 1 ¼"
18 tes internos PVC de 1 ¼" para tubo flexível
113 tes internos PVC de ¾" para tubo flexível
18 buchas de redução c/ rosca PVC de 1 ½" x ¾" para tubo flexível
113 buchas de redução c/rosca PVC de ¾" x ½" para tubo flexível
4 joelhos internos PVC de ¾" para tubo flexível
19 torneiras PVC de ½"
2 joelhos internos PVC de 1 ¼" para tubo flexível
22 adaptadores internos PVC de ¾" para tubos flexíveis
113 adaptadores internos PVC de ½" para tubos flexíveis
54 abraçadeiras simples de 1 ¼"
226 abraçadeiras simples de ¾"
113 abraçadeiras simples de ½"
2 nipels c/rosca PVC de ½"
5 veda rosca

Ferramentas
2 picaretas; 1 enxada; 2 pás; 5 colheres de jardinagem; 3 baldes; 1 carrinho de mão; 2 chaves de fenda.

Material didático
Mapa ambiental da área do projeto; Trena de 30 m; Bússola; Computador Pentium II.

Recursos Financeiros
Por meio de planejamento realizado pela direção, professores e alunos com parceria da APAM Setor Leste referente às carteiras estudantis do Setor Leste no início do ano de 2003. Metade desses recursos foram destinados para o sistema de irrigação por gotejamento. Esses recursos gastos até o momento, totalizaram R$ 505,00 (quinhentos e cinco reais). Para término do projeto precisa-se de cerca de R$ 800,00 (oitocentos reais) com orçamentos realizados a três meses atrás.

Métodos
Foi elaborado um projeto desenhado em papel vegetal que está sendo digitalizado para AUTOCAD 14, amplamente discutido entre professores e na comunidade, com disposição linear das árvores, em média de 12 m em 12m nessa área de fundos de 290 m x 90 m, que tem 26.100 m2. Essa disposição das árvores favorece também, a prática da educação física no local. Na preparação, piqueteamos as covas que foram abertas com retroescavadeira, utilizamos lodo ativado como adubo e mudas selecionadas pela comunidade. Portanto, a comunidade participa dos objetivos gerais e específicos do projeto. Estamos numa fase em que a comunidade escolar está sensibilizada para as atividades que se desenvolve. Neste ano trabalha-se com muita ênfase na execução do sistema de irrigação que partiu da idéia de ser o mais sustentável possível, do ponto de vista ambiental e econômico, chamado de irrigação por gotejamento. A disposição das tubulações é realizada com uma rede linear interligada com três ramais a considerar: principal, secundário e terciário. O ramal principal, que tem diâmetro de 1 ¼" e extensão, do ponto de água geral, 220 m no sentido nordeste e 60 m no sentido sudeste ambas com direção paralela a cerca dos fundos da escola e 50 m perpendicular a essa direção para distribuição dos ramais secundários. Os ramais secundários têm diâmetro de ¾" com extensão total de 980 m distribuída em três linhas paralelas que acompanham a direção da cerca dos fundos da escola. Dos ramais secundários se distribui para o ramal terciário de diâmetro de ½", com os trechos até cada pé de árvore totalizando 904 m. O sistema está preparado para fornecer uma vazão de 10 L / hora para cada árvore, assim não sobrecarrega o sistema de abastecimento de água da escola. Já foi fixado a extensão de 290 m do ramal principal, de 150 m do ramal secundário e 100 m do ramal terciário. O ramal principal, provisoriamente para se irrigar manualmente, ainda nessa fase, tem cinco torneiras distribuídas para colocação de mangueira enquanto o resto do sistema não estiver interligado. No momento, 8 árvores já estão irrigadas por gotejamento. O resto das árvores ainda estão sendo irrigadas manualmente. Em julho, para finalizar o cronograma de desenvolvimento foi feito a capina de toda área.
É importante lembrar que todos os trabalhos realizados são feitos com parcerias com ong's, empresa de limpeza e conservação, órgãos públicos e APAM Setor Leste. Os trabalhos manuais como preparação das covas, plantio das árvores, escavações para as tubulações, conexão e fixação dos ramais, cercas de proteção e identificação com placas foi realizada por alunos e professores.

2.4. Identificação das espécies arbóreas

a) Esquema com a localização e lista das mudas

Para uma melhor análise taxonômica e estatística das espécies plantadas, as covas foram agrupadas em nove linhas numeradas, no sentido do comprimento do terreno, e cada uma, além do número, recebeu uma letra, em ordem alfabética. Baseada nessa classificação, foi feita uma lista com o nome vulgar de cada espécie, quando identificada. Essa lista constitui-se em um esquema temporário, pois o objetivo é confeccionar uma tabela com todas as espécies e mapa dendrológico de toda a área em recuperação. A identificação das espécies está sendo feita pelos Profs. João Couto Teixeira (CEMSL), Bella Xible (CEMSL) e Laura Cavalieri Bisio (Iesambi), que confeccionaram tabela e mapa dendrológico de uma área parcial, dentro da disciplina de Dendrologia, ministrada pelo Prof. Manoel Cláudio (UnB), que auxiliou na identificação das espécies.
Esse trabalho proporciona aos alunos a oportunidade de conhecerem de perto diferentes espécies de árvores, suas características, exigências e utilidades, e principalmente seu papel fundamental na manutenção do equilíbrio climático e no ciclo das águas do nosso planeta.

Clique no título para mais detalhes e fotos da Identificação das espécies arbóreas

O mapa dendrológico dos jardins frontais e internos da escola foi feito, nessa mesma disciplina, por um ex-aluno da escola que ingressou no curso de Eng. Florestal da UnB. Esse trabalho representa para nós um dos frutos do Projeto Margem.

b) Confecção das placas de identificação

Material
. régua
. lápis
. chapa de alumínio
. tesoura para metal
. martelos (4)
. conjunto de letras para marcação em metal
. tabela com a lista das espécies

Métodos
Inicialmente, foi feita uma introdução teórica sobre as vantagens do plantio de árvores em ambientes urbanos e uma caminhada entre as mudas, com a identificação das espécies e observações a respeito das adaptações dessas árvores ao solo e clima do Cerrado.
Na sombra de uma Goiabeira (Psidium guajava), a chapa foi medida e as placas marcadas e cortadas no tamanho de 15 x 8 cm. Foram escritos os nomes vulgar, científico e a família de 28 espécies. Infelizmente uma das espécies, Coração-de-Negro, foi cortada confundida com a grama.

c) Colocação das placas de identificação
Material
. prego
. martelo
. arame de alumínio
. caneta

Métodos
O arame foi enrolado em espiral ao redor de uma caneta. Foram feitos 2 furos em cada placa, presas ao tronco principal (fuste) da muda com o arame.

3. Trilha socioambiental até a nascente da Quadra 614 sul

Professores e alunos caminharam por uma trilha até a lagoa formada pelas águas da nascente com informações sobre a importância desses ambientes naturais, Áreas de Preservação Permanente (APP), no ciclo das águas, biodiversidade, qualidade do ar e estabilização da temperatura, entre outros. Foi discutida a legislação ambiental pois constatamos a infringência de artigos da Lei 9.605 (Lei dos Crimes Ambientais), como o corte de árvores e a retirada do solo de extensa área ao redor da nascente e da lagoa, além da poluição com lixo depositado no local.
A proposta do Projeto Margem é a criação de um Corredor Ecológico acompanhando a trilha já existente, ou em outro local a ser definido, ligando a área em recuperação da escola até a nascente e as margens do Lago Paranoá. Isso possibilitará o trânsito de seres vivos entre estes ambientes, aumentando sua biodiversidade, e garantirá o fluxo de alunos e professores nas aulas de educação socioambiental.

Clique no título para fotos e detalhes do Parque Asa Sul

4. Coleta e análise dos seres planctônicos do Lago Paranoá e da lagoa da 614 sul

Um dos objetivos do Projeto Margem é chamar a atenção para o papel físico-químico e biológico dos micróbios (micro - pequena, bio - vida), que não se restringe a causar doenças. Os seres unicelulares são a base da vida na terra. Participam de todos os ciclos bioquímicos tais como o do Nitrogênio (fixadores de nitrogênio), Oxigênio (fotossintetizantes), Carbono (decompositores), como principais integrantes.
Dentro de um ambiente aquático encontramos diversos organismos microscópicos, uni e multicelulares, que influenciam as condições do local onde vivem. O despejo de nutrientes no
lago através dos esgotos leva a explosões populacionais de determinadas espécies de algas, cianobactérias, que consomem o oxigênio e causam a morte dos peixes. Ao mesmo tempo bactérias desse mesmo grupo são responsáveis pela produção de boa parte do oxigênio do planeta: 70% do que é produzido pelos seres vivos vem dos mares.
Outro aspecto que salientamos é a variedade de associações mutualísticas que encontramos entre os microrganismos, e entre micróbios e seres multicelulares. Temos o exemplo de certas espécies de formigas que cultivam fungos e se alimentam da secreção desses organismos, e ainda estão associadas a bactérias que protegem esses fungos, numa simbiose tripla (Currie CR, 2001). Nossa flora intestinal, onde a levedura Saccharomyces cereviseae nos fornece as vitaminas do complexo B, é outro dos muitos exemplos de associações entre os seres vivos que conhecemos.

Materiais
. Rede de plâncton, vidros limpos com tampa, pipetas, lâminas, lamínulas, álcool, papel toalha, máquina fotográfica, câmera de vídeo, microscópios

Métodos
Fomos ao Paranoá, rinsamos os frascos de coleta cinco vezes com água do lago, jogamos cinco vezes a rede de plâncton, e coletamos diversas espécies de invisíveis seres vivos. Este material foi analisado, fotografado e filmado em microscópio ótico no Laboratório de Biologia do Cemsl, juntamente com os alunos, e no Laboratório de Microscopia Eletrônica da UnB. A identificação foi feita pelos Professores João Couto Teixeira (Cemsl), Maria do Socorro Rodrigues (UnB) e Laura Cavalieri Bisio (Iesambi). Tivemos o apoio das Professoras Marlene Teixeira de Souza (Microbiologia /UnB) e Sonia Bao (Microscopia Eletrônica/UnB) e do Artista Plástico Paulo Couto Teixeira.

Clique no título para fotos e detalhes dos
Micróbios do Lago Paranoá

IV. Resultados

1. Recuperação da área posterior do CEMSL com o plantio de mudas de espécies arbóreas.

a) Estatística:
Das 280 mudas plantadas, 230 foram identificadas (mais de 90 espécies), representando cerca de 80% dos indivíduos. Entre elas não estão contabilizadas as mudas e árvores já existentes. Exóticas adultas são três Mangueiras (Mangifera indica), dois Abacateiros (Persea americana) e uma Jaqueira (Artocarpus heterophyllus); e nativas adultas: uma Goiabeira (Psidium sp.), dois Pequizeiros (Caryocar brasiliense) e um Jacarandá-cascudo (Machaerium opacum).
A colocação de estacas e o trabalho de esclarecimento junto aos funcionários da conservação resultou na preservação de muitas espécies nativas que vinham sendo cortadas, juntamente com a grama, durante os últimos anos: Caquis-do-Cerrado, Cajuzinhos-do-Cerrado (com flores), Jacarandá-cabiúna, Jacarandá-cascudo, Jatobás-do-Cerrado, Pau-Brasil, Pau-formiga, Pau-terra e outras ainda não identificadas.

b) Aumento da biodiversidade: estão sendo observadas na área em recuperação várias espécies de aves como o Quero-quero (Vanellus chilensis), Pomba-do-Cerrado (Columba sp.), Tesourinha (Tyrannus savana), Fogo-apagou (Scardafella squammata), Maria-faceira (Syrigma sibilatrix), Coruja-buraqueira (Speotyto cunicularia) além de uma infinidade de insetos e outros invertebrados. Elementos da fauna são importantes na polinização e dispersão de sementes, o que leva a um aumento ainda maior da biodiversidade, em um processo cíclico.

2. Trilha socioambiental até as nascentes e a lagoa da quadra 614 sul.

Durante uma aula de campo na quadra 614 sul, em agosto deste ano, constatamos a devastação da região ao redor das nascentes e da lagoa, com fins de construção imobiliária, pois inclusive alguns buracos para as fundações de uma faculdade já tinham sido abertos. A comunidade de Brasília vinha reivindicando a criação de um parque na região das nascentes e lagoa, Áreas de Preservação Permanente (APP), desde 2001. Moradores, estudantes, professores uniram forças e conseguiram que o Parque da Asa Sul fosse criado: Decreto n. 24.036, de 10 de setembro de 2003, publicado em 11 de setembro, Dia do Cerrado.

Clique no título para fotos e detalhes do Parque Asa Sul

3. Coleta e registros dos organismos planctônicos do Lago Paranoá

Além da análise em microscópio de amostras frescas da água do lago, orientando os alunos nas aulas práticas de laboratório, as fitas de vídeo e fotografias nas quais registramos os organismos planctônicos do Lago Paranoá são utilizadas como material didático após a identificação taxonômica.

V. Acompanhamento, controle e avaliação

Desejamos que as atividades pedagógicas sejam dinâmicas e participativas, presentes nas aulas. A observação sistemática do desenvolvimento das operações do projeto, como fora citado anteriormente, completa-se pelo registro de informações relativas ao seu andamento, o que também é feito ordinariamente a cada semestre, com a divulgação do material selecionado para ser utilizado como material didático-pedagógico de educação socioambiental.
Aspectos físicos, financeiros e temporais são levados em consideração nas reuniões de avaliação dos registros e seleção do material a ser editado, uma vez por bimestre.
Desvios que ocorrem em relação ao planejamento estabelecido são corrigidos com decisões tomadas em reuniões previstas ao longo do andamento do projeto.
Os participantes do projeto realizam relatórios, após as aulas de campo, que são entregues para avaliação interdisciplinar ao longo dos bimestres, principalmente pelos professores da área interdisciplinar e utilizados pela coordenação do projeto para medir os resultados.

VI. Conclusão

Os trabalhos realizados pelo Projeto Margem nas margens do Lago Paranoá, nas nascentes da 614 sul e em outros ambientes naturais do DF têm sido um campo de estudo para alunos, professores e parcerias do Projeto Margem há 10 anos. Nessas oportunidades, devido à interação entre as diferentes áreas do conhecimento representadas dentro do grupo profissional da escola, tem sido desenvolvido um trabalho interdisciplinar, onde se objetiva uma aprendizagem significativa por meio de aulas de campo, coleta de material, análise em aulas práticas de laboratório e discussões em sala de aula, fazendo a ligação dos conhecimentos abordados com o currículo escolar. Além disso, o envolvimento dos alunos com o ambiente próximo à escola possibilita também a percepção da realidade social e política da sociedade em que vive. A participação dos alunos no Movimento pela Criação do Parque Asa Sul, com participação do Projeto Margem e CEMSL, constituiu-se em um momento de verdadeira prática de cidadania, onde a comunidade, organizadamente, assegurou a preservação de um patrimônio natural que estava seriamente ameaçado.
O trabalho junto com os alunos na recuperação das áreas verdes da escola, além de todas as vantagens da presença de árvores para a nossa qualidade de vida, tem facilitado o aprendizado de conceitos de ecologia, botânica, geografia, física, química, um maior conhecimento a respeito de espécies nativas do Cerrado, entre outros. O plantio e cuidado com as mudas auxiliam os alunos a desenvolverem novas habilidades, incluindo a divisão de tarefas e o trabalho em grupo.
Os relatórios realizados após todas as atividades são fundamentais tanto para a organização das idéias dos próprios alunos, como têm nos possibilitado fazer uma avaliação do alcance que o trabalho está tendo, com resultados muito positivos.

VII. Perspectivas

Os planos para o futuro são muitos. A instalação de um viveiro de mudas de árvores nativas e frutíferas e sua manutenção pela comunidade escolar e parcerias, horta comunitária, pista de atletismo entre as mudas, criação de um corredor ecológico ligando a escola ao Parque Asa Sul e às margens do Lago Paranoá (mudas do viveiro serão usadas para recuperar a região do corredor), construção de um cais no local de contato entre o corredor e o lago e aquisição do Barco-escola.


VIII. Bibliografia


Currie CR. A community of ants, fungi, and bacteria: a multilateral approach to studying symbiosis. Annu. Rev. Microbiol. 55:357-80, 2001.

Fonseca, O.F. Olhares sobre o Lago Paranoá. Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos - Semarh, Brasília/DF, 2001.

Margulis & Schwartz. Five Kingdoms, 3rd Edition, 1998. W.H. Freeman and Comp, New York.

Magalhães, L.M.S. e Crispim, A.A. Vale a pena plantar e manter árvores e florestas na cidade? Ciência Hoje, Vol. 33, nº 193, 64-85, 2003.