Manifesto
alerta que liberação do 'Finale' traria contaminação
Milho
transgênico da Bayer atenta contra a saúde e o meio ambiente
Dezenas de entidades sindicais, populares e associações
de consumidores assinaram documento contra o milho transgênico da
multinacional Bayer que está sendo encaminhado à Comissão
Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBIO).
Assinado por dezenas de entidades sindicais, populares e associações
de consumidores, o documento alerta que "liberada por medida provisória,
a soja transgênica já está sendo plantada e consumida
no país sem qualquer avaliação de riscos para
o meio ambiente e para a saúde dos consumidores e sem rotulagem".
"Mas como será que a nova CTNBio vai avaliar os riscos do
milho transgênico conhecido comercialmente como Liberty Link?
Este milho transgênico é resistente ao glufosinato de amônio,
herbicida produzido atualmente pela multinacional Bayer com o nome de
Finale, mas que vai passar a se chamar Liberty (assim como o herbicida
Roundup e a soja Roundup Ready, da Monsanto)", questiona o manifesto,
frisando que é necessário "deter a contaminação
transgênica".
SERIEDADE
"É hora de se aplicar a ciência com seriedade",
defendem as entidades, lembrando que "já são muitas
as pesquisas científicas independentes que vêm levantando
inúmeros riscos de vários produtos transgênicos para
a saúde dos consumidores e para o meio ambiente. Ao contrário
das pesquisas feitas pelas empresas para justificar a suposta inocuidade
de seus produtos, estas pesquisas independentes são publicadas
em revistas científicas, ou seja, seus métodos e resultados
são submetidos à revisão crítica por outros
cientistas".
Elencando inúmeras referências de publicações
científicas de peso com severas críticas aos produtos transgênicos
das multinacionais, o manifesto cita que em novembro de 2003, "cientistas
de dois renomados centros de pesquisa do INRA (a Embrapa da França)
relataram que o milho T25 Liberty Link da Bayer não mostrou estabilidade
nos experimentos por eles acompanhados; que os transgenes tinham se rearranjado
e que não correspondiam mais à caracterização
genética apresentada". O mesmo INRA em dezembro de 2005 publicou
nova pesquisa apontando que " o uso de herbicidas cresce com o
uso de transgênicos tais como a soja RR e o milho Liberty Link,
entre outros, ao contrário do que proclamam as indústrias".
Entre outras citações, o documento ressalta que "em
2002, o diretor do Advisory Commitee on Release to the Environment, da
Inglaterra, questionou os testes realizados pela Bayer para pedir a liberação
do milho transgênico Liberty Link, já que os mesmos indicaram
uma taxa de mortalidade duas vezes mais elevada em galinhas alimentadas
com este produto, em comparação com outras alimentadas
com milho convencional. A empresa descartou este fato na sua análise".
EXEMPLOS
Conforme as entidades, exemplos contundentes como esses deveriam ser suficientes
para que "um grupo de cientistas e representantes do governo e da
sociedade civil membros da CTNBio não aprovassem a liberação
do milho Liberty Link da Bayer ou qualquer outro transgênico no
Brasil. Porém, pelo comportamento pouco científico de parte
desta Comissão, fica a impressão de que os interesses das
empresas ainda prevalecem sobre os interesses da biossegurança
dos consumidores e do meio ambiente do país".
Além dos riscos para a saúde dos consumidores e para o meio
ambiente, acrescentam as entidades, "a liberação do
milho transgênico tem riscos elevados para a diversidade das variedades
de milho no Brasil. A contaminação das variedades de
milho convencional e do milho crioulo pelo milho transgênico será
devastadora". "Há centenas de variedades de milho
crioulo desenvolvidas pelos agricultores familiares ao longo de gerações
e que são bem adaptadas às condições ambientais
e aos objetivos produtivos desta categoria. Em particular, estas variedades
são bem adaptadas às práticas da agroecologia e sua
desaparição levará a uma grande fragilização
deste modo sustentável de produzir que é economicamente
rentável e ambientalmente saudável. Para agravar o problema
da poluição genética, as multinacionais da biotecnologia
ainda podem reclamar direitos de propriedade intelectual sobre a produção
e as sementes contaminadas. Isso acontece em outros países e aconteceu
no Brasil com a soja transgênica da Monsanto".
INDEPENDÊNCIA
Finalmente, destaca o manifesto, é preciso também pensar
na soberania nacional. "A entrada da soja transgênica no Rio
Grande do Sul substituiu dezenas de variedades convencionais desenvolvidas
pela Embrapa e bem adaptadas a várias condições ambientais
do estado por apenas umas poucas em que o poder proprietário da
Monsanto é total, já que detém o monopólio
da tecnologia da transgenia. No caso do milho o problema será ainda
maior, pois as empresas multinacionais de biotecnologia detêm mais
de 70% da oferta de sementes convencionais de milho e não deixarão
de substituí-las pelas transgênicas assim que este cultivo
for liberado. Estas são algumas das razões que nos levam
a cobrar seriedade da CTNBio e a sua independência em relação
aos interesses das empresas".
LEONARDO SEVERO
Publicado no jornal Hora do Povo , edição 2541, página
4, em 9/13 fevereiro de 2007
http://www.horadopovo.com.br/2007/fevereiro/09-02-07/pag4a.htm
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