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Jeanette Santos
O processo não é nenhuma novidade. Na década de 70, impressionado com o que viu, o saudoso Henfil registrou em seu diário de bordo a disciplina dos chineses, que, diariamente, recolhiam em um depósito coletivo as próprias fezes. Os dejetos, que, à época, não podiam, de forma alguma, ser desperdiçados, eram processados e se transformavam em gases.
Energia fundamental para movimentar a economia do país.
Defendida pelo físico Lavoisieur, a teoria de que "na natureza nada
se perde, tudo se transforma" não poderia ser melhor aplicada quando
se trata do aproveitamento dos excrementos de animais. Terceiro produtor nacional
de carne suína, com um rebanho estimado em 400 mil cabeças, abençoado
pelo clima quente, favorável ao processo de fermentação,
Minas se prepara para transformar 30 mil metros cúbicos de excrementos,
gerados por 200 mil porcos, em 180 mil metros cúbicos de gás metano
e 20 mil metros cúbicos de biofertilizantes. Para isso, serão
instalados 500 biodigestores em fazendas produtoras.
Mais importante que a geração de energia alternativa, a nova destinação
dos excrementos vai reduzir a poluição dos
rios, onde costumam ser lançadas hoje as fezes dos animais, sem qualquer
tratamento. Financiado pelo Banco Mundial, com recursos dos países
desenvolvidos signatários do Protocolo de Kyoto, o programa para a instalação
de biodigestores foi selado no último dia 12, com a assinatura de
um convênio entre a empresa AgCert International LLC, o Instituto Estadual
de Florestas (IEF), a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e a Associação
Mineira de Suinocultores.
Previsto para ser implementado nos próximos 18 meses, o programa, orçado
em US$ 5 milhões, com a implantação de 1.500 biodigestores
em todo o país, tem um custo unitário entre R$ 30 e R$ 35 mil.
Em Minas, cujo clima quente favorece a fermentação do esterco,
ao contrário dos estados do Sul, os equipamentos deverão beneficiar,
em princípio, produtores que mantêm plantéis com mais de
250 porcos. Os criadores do Triângulo Mineiro, onde a concentração
do rebanho é maior, serão os primeiros beneficiados. Os produtores
da região de Ponte Nova, na Zona da Mata, do Alto Paranaíba e
da região Central, incluindo a Região
Metropolitana de Belo Horizonte, já estão sendo contactados. Cerca
de 1.800 produtores disputam o mercado de produção de carne suína
no Estado.
Os proprietários das fazendas, beneficiados pelo programa, além
de se comprometerem a fazer a manutenção dos equipamentos em sua
propriedade, deverão consumir a energia gerada, evitando que os gases
sejam lançados na atmosfera. A queima do gás produz energia que
poderá ser consumida nas residências em torno das fazendas (uso
doméstico) ou para a
própria atividade produtiva, como a manutenção de estufas
para leitões, frangos, aquecimento de água e, até mesmo,
iluminação.
Clima favorece o processamento do biodigestor
A injeção dos US$ 5 milhões que a empresa canadense AgCert
International LLC se comprometeu a fazer nos próximos anos no país,
beneficiando principalmente os produtores mineiros de suínos, não
é nenhuma benesse dos países desenvolvidos para com os pobres.
Especializada no
desenvolvimento de projetos de seqüestro de carbono, tendo como base os
princípios definidos no Protocolo de Kyoto - que determinam cotas aos
países desenvolvidos para a redução da emissão de
gases poluentes na atmosfera, sob pena de provocar o aumento da camada de ozônio
e o conseqüente aquecimento da terra (efeito estufa) -, a empresa aposta
suas fichas em Minas, em função
do clima quente, que favorece o processamento biodigestor.
Cada metro cúbico de gás produzido é cotado entre US$ 5
US$ 15 no mercado internacional. E a tendência é de que esse valor
alcance valores cada vez mais elevados na Bolsa de Carbono, que, no futuro próximo,
deverá regular o mercado internacional, oscilando de acordo com o comportamento
dos países desenvolvidos e dos em desenvolvimento, em função
do risco cada vez maior de uma tragédia ambiental.
Projeto piloto
Considerado um dos principais causadores de problemas ambientais no agronegócio,
há mais de um ano, os dejetos da
criação de suínos vêm sendo aproveitados para a geração
de gás combustível, fertilizante e alimento para peixes, em um
projeto piloto, implantado em Toledo, no Oeste do Paraná, maior produtor
nacional de carne suína.
O sistema de tratamento, semelhante ao que será implantado em Minas,
consiste no armazenamento das fezes em estruturas
fechadas, para onde são conduzidos, por tubulações, o esterco
e a urina dos animais. Nesse local, o material entra em processo natural de
fermentação, por meio de bactérias anaeróbicas,
que se desenvolvem na ausência total de oxigênio, e, no final, são
produzidos gases, resíduos pastosos e efluentes líquidos. (J.S.)
BIODIGESTOR
Como funciona
- As fezes dos suínos são conduzidas através de tubulações para um depósito com água, vedado por uma lona;
- Nesse local, os dejetos entram em processo natural de fermentação, por meio meio de bactérias anaeróbicas (que se desenvolvem na ausência total de oxigênio);
- Ao final do processo, são produzidos gases (butano), que, sugados através de dutos, são armazenados e utilizados para a geração de energia;
- O material sólido vira adubo natural para as lavouras;
- Os efluentes líquidos alimentam algas em tanques
que, depois, viram comida para peixes criados em açudes.
Fonte: Instituto Estadual de Florestas, Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária - Embrapa Suínos e Aves
“Durante as belas noites de tempestade, os relâmpagos tiram fotografias da paisagem” (Mário Quintana).
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