Arbopasto: benefícios para o ecossistema das pastagens
Uma característica
das pastagens cultivadas na região amazônica é a pequena presença
de árvores. Isto se deve ao sistema tradicional de formação
de pastagens na região e ao desconhecimento dos benefícios que as
árvores proporcionam ao ecossistema da pastagem e ao rebanho.
Em pastagens arborizadas, as árvores fornecem sombra para o gado, fixam
nitrogênio, melhoram a ciclagem de nutrientes, reduzem a erosão do
solo, protegem as nascentes e reduzem o estresse no rebanho, o que vale ao aumento
da produtividade no gado leiteiro e de corte. A arborização também
gera produtos como madeira, frutos, forragem, óleos e resinas, colaborando
para a sustentabilidade dos sistemas de produção.
Principais benefícios da arborização de pastagens
1) conforto térmico: A sombra de árvores é
considerada uma das mais eficientes para conferir conforto térmico ao gado.
Em pastagens com poucas árvores, é comum observar grandes aglomerações
de animais sob a copa das árvores nas horas mais quentes do dia. Mesmo
o gado nelore, bem adaptado ao clima tropical, procura a sombra das árvores
para fugir do calor excessivo. Atualmente, com a tendência crescente do
cruzamento industrial com raças européias de corte, o sombreamento
dos pastos torna-se ainda mais importante. Para o gado leiteiro criado a pasto,
sabe-se que a falta de sombra nas pastagens pode causar queda de 10% a 20% na
produção de leite.
2) enriquecimento do solo: As árvores possuem raízes
profundas, que conseguem capturar água e nutrientes em camadas inferiores
do solo onde o capim não alcança. Com a queda de suas folhas, galhos
e frutos, parte destes nutrientes são depositados sobre o solo, aumentando
sua fertilidade. Além disso, algumas árvores pertencem à
família das leguminosas e são capazes de fixar o nitrogênio
do ar no solo. Com isso, estas leguminosas arbóreas adubam a pastagem com
nitrogênio, que é o nutriente mais importante para o crescimento
dos capins. O solo debaixo da copa de árvores de Baginha, por exemplo,
possui menores teores de alumínio e maiores conteúdos de matéria
orgânica e de nitrogênio total que o solo do restante da pastagem.
3) melhoria do valor nutritivo do pasto: O pasto crescendo debaixo
da copa de árvores, principalmente de leguminosas arbóreas normalmente
apresenta coloração verde-escura e maiores teores de proteína
bruta e de minerais do que aquele da área não sombreada. Em parte,
isto reflete o enriquecimento do solo proporcionado por estas árvores.
O teor de proteína bruta do capim debaixo da copa de árvores de
baginha foi 50% superior ao do capim na área aberta da pastagem (10,8%
vs. 7,2%).
4) suplementação natural: Muitas espécies
arbóreas, notadamente as leguminosas, produzem grande quantidade de frutos,
coincidentemente, no pico do período seco (agosto-setembro), quando normalmente
há falta de pasto nas fazendas. Os frutos produzidos pela Baginha, pelo
Bordão-de-velho e por outras árvores da região são
muito apreciados pelo gado e possuem bom valor nutritivo, representando um recurso
forrageiro adicional na pastagem (suplementação natural).
5) diversificação do ambiente: A presença
de árvores nas pastagens aumenta a diversidade do ecossistema, propiciando
maior oportunidade para aumento da fauna nas pastagens. Isso pode trazer efeitos
benéficos, por exemplo, no controle de ectoparasitas do rebanho por aves
como garças e no controle de pragas das pastagens (cigarrinha-das-pastagens
e lagartas desfolhadeiras) por insetos e aves predadores. Um dos insetos predadores
das cigarrinhas-das-pastagens é uma mosca (Salpingogaster nigra) que vive
próximo de árvores.
6) diversificação da produção: Com
a arborização de pastagens existe a possibilidade de utilização
de espécies fornecedoras de produtos, tais como madeira de lei, óleos,
resinas e etc., podendo representar uma importante fonte adicional de renda na
propriedade principalmente para os pequenos produtores.
7) conquista de mercado e valorização da propriedade:
Fazendas com pastagens arborizadas são ecologicamente mais corretas do
que aquelas com pastagens homogêneas, de modo que os produtos oriundos destas
propriedades são potencialmente capazes de conquistar mercados mais exigentes.
Além disso, as pastagens arborizadas possuem maior beleza paisagística,
podendo ser mais valorizadas.
Mudas florestais produzidas para implementação da primeira fase:
Cumaru ferro
Cedro
Copaíba
Bajinha
Ipê roxo
Ipê amarelo
Bordão de velho
Paricá
Jurema
Faveira
Outras informações:
Jornalista
Soraya Pereira (soraya@cpafac.embrapa.br). Fone: 212 3274
Embrapa Acre
Pesquisadores
Judson Valentim (judson@cpafac.embrapa.br). Fone: 212 3200 e 9984 4345
Carlos Maurício de Andrade (mauricio@cpafac.embrapa.br). Fone: 212 3200
Luís Claudio de Oliveira (lclaudio@cpafac.embrapa.br). Fone: 212 3254 e
9986 3126
Embrapa Acre
JC e-mail 2490, de 24 de Março de 2004.
Sombra e leite fresco
Pesquisadores
da Embrapa viabilizam novas técnicas para arborização de
pastos e áreas de preservação permanente. Segundo eles,
ambiente fresco reduz o estresse no rebanho e aumenta a produtividade do gado
Thiago Romero escreve
para a "Agência Fapesp":
Um estudo desenvolvido
em Rio Branco pela Embrapa Acre, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,
detectou que uma das principais características das pastagens cultivadas
na região amazônica é a pequena presença de árvores.
Por conta disso,
os pesquisadores envolvidos com o Programa de Arborização de Pastagens
Degradadas (Arbopasto) resolveram viabilizar novas técnicas para arborização
de pastos e áreas de preservação permanente, motivados
pelos benefícios que as árvores trazem ao rebanho e ao ecossistema.
"Algumas raças
de zebuínos criadas na Amazônia têm menor adaptação
às condições de clima quente e úmido. Em função
disso, muitos produtores sentiram a necessidade de plantar árvores em
suas pastagens, tanto para oferecer sombra aos animais como para diversificar
o ecossistema", diz Judson Valentim, pesquisador do Núcleo de Sistemas
Sustentáveis de Produção Animal da Embrapa Acre.
Além de
fornecer sombra para o gado, as árvores fixam o nitrogênio do ar
no solo, melhoram o ciclo de água e nutrientes, reduzem a erosão
e aumentam a fertilidade do solo.
De acordo com os
pesquisadores, o ambiente mais propício reduz o estresse no rebanho e
aumenta bastante a produtividade, tanto no gado leiteiro como no de corte.
Como forma de incentivo
para que os pecuaristas arborizem suas pastagens, a Embrapa Acre mantém
atualmente um viveiro com 20 mil mudas de espécies florestais para distribuição
gratuita a produtores.
Desde o ano passado,
já foram entregues à população local 50 mil mudas
de espécies como cumaru ferro, cedro, copaíba, ipê roxo
e amarelo, paricá e faveira.
O Programa
Arbopasto, uma parceria entre a Embrapa, o Ministério da Agricultura
e o Governo do Estado do Acre, prevê o plantio de 100 mil mudas de árvores
nativas da Amazônia até o final de 2004.
"Nossa meta
é, até 2006, atingir algo em torno de 100 mil hectares de pastagens
arborizadas, com 1 milhão de árvores", disse Valentim.
O Acre conta com
18 mil pecuaristas e um rebanho com cerca de 1,9 milhão de cabeças,
que responde por 40% do PIB estadual.
Os interessados
em participar do projeto podem entrar em contato com a Embrapa Acre,
pelo fone (68) 212-3200, para retirar as mudas e receber orientações
técnicas de uma equipe de monitores.
Mais informações pelo e-mail: judson@cpafac.embrapa.br
(Agência Fapesp, 24/3)