Inicial  Participe  Parcerias  Desafios  Contato

UCB desenvolve antibiótico a base de frutas contra infecções hospitalares

Bárbara Renault
Do CorreioWeb

11/07/2006
10h23-Cientistas da Universidade Católica de Brasília (UCB) estão desenvolvendo uma pesquisa pioneira no Brasil. Há quatros anos, mais de 20 pesquisadores se dedicam à elaboração de um antibiótico a base de sementes de plantas para combater infecções hospitalares. Dos 20 tipos selecionados, três já apresentaram resultados positivos: maracujá, goiaba e feijão de corda. A expectativa é de que o produto seja comercializado com custos até 60% menores que o de antibióticos vendidos hoje no mercado.

De acordo com o coordenador da pesquisa, Octávio Luiz Franco, os compostos descobertos nas sementes das frutas e do legume são eficientes no combate de bactérias e fungos causadores de graves infecções hospitalares. “As infecções são uma grande preocupação nos hospitais porque acabam levando à morte pacientes com baixa imunidade que estão lá por outros motivos. A nossa preocupação era criar um composto natural, eficaz, nacional e mais acessível”, afirma.

Nos testes já realizados, Franco conta que a semente do maracujá foi eficaz no combate ao fungo Aspergillus, causador da infecção pulmonar. Já a goiaba ataca duas bactérias causadoras de infecções renal e intestinal, a Klebsiella e a Proteus. O feijão de corda também mostrou-se eficaz nas infecções intestinais, inibindo a ação da bactéria Escherichia coli.

O pesquisador alerta que a fruta em si não causa os efeitos esperados. “É necessário uma dosagem muito alta para se obter os resultados. Os compostos devem antes passar por um processo de concentração”, explica. O grupo pretende comercializar o antibiótico em forma de pomadas e/ou cápsulas. “A nossa pretensão não é apenas transformá-lo em tratamento para as infecções. Mas também como agente preventivo. Por isso, criar uma pomada que servirá para esterilizar o ambiente, os objetos, e os equipamentos que entrem em contato direto com os pacientes”, complementa Franco.

Mercado
A previsão é de que o medicamento comece a ser vendido em três ou quatro anos. Franco justifica a demora com a necessidade de confirmar a segurança do remédio à população. “Já fizemos alguns testes em ratos. Mas para comercializar, temos que testar em seres humanos. Essa etapa ainda está sendo estruturada e a iniciaremos quando comprovarmos que é seguro em mamíferos”, explica.

Como o produto é totalmente natural, Franco acredita que a rejeição em humanos seja baixa. Os testes em humanos devem ser feitos na rede pública hospitalar do Distrito Federal e devem analisar os possíveis efeitos colaterais e alergias que podem causar.

Apesar de ainda estar em desenvolvimento, os pesquisadores da UCB já deram entrada no processo para patentear o antibiótico. A expectativa é de que os trâmites terminem em seis meses. “Já quisemos dar início a essa etapa porque já temos descobertas importantes. Não queremos a nossa pesquisa com méritos de outros”, comenta.

Pioneira
A pesquisa desenvolvida pela UCB é inédita no Brasil. Octávio Franco, também coordenador de Análise Proteômica e Bioquímica do Centro de Pós-Graduação em Bioquímica da Universidade, afirma que também não conhece pesquisas no mundo sobre antibióticos naturais. “Os antibióticos que existem hoje são à base de compostos secundários. Essa é a primeira pesquisa que temos conhecimento que tem como base a proteína. E é também a primeira que se baseia em sementes de plantas. Só não posso afirmar com certeza que é a única no mundo porque há muito material em estudo e não publicado”, declara Franco.

Além dos pesquisadores da Católica, outras setes instituições são parceiras na pesquisa: a Universidade de Havana em Cuba, a Universidade de La Trobe na Austrália, a Universidade de Los Angeles na Califórnia, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, a Universidade Federal do Ceará e a Embrapa.

De acordo com Franco, as parcerias foram essenciais para o desenvolvimento do projeto. “Hoje ninguém faz pesquisa sozinho. Os equipamentos são muito caros, há pesquisas que devem ser feitas em laboratórios específicos. Um exemplo é uma parceria que temos uma universidade da Austrália. A doutoranda Patrícia Pelegrini, integrante do grupo, conseguiu uma bolsa e está lá aprendendo como produzir o medicamento em larga escala”, exemplifica.

O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) são os órgãos federais que garantem o financiamento da pesquisa. Desde o início dos estudos, o CNPq já liberou mais de R$ 250 mil. “O incentivo é bom, mas ainda falta muito. O governo federal deveria investir mais em políticas para a ciência nacional. Temos muitas pesquisas boas para se transformar em produto”, finaliza Franco.

Correio Braziliense