2ª SÉRIE - 2º BIMESTRE - 2004

Prof. Joaõ Couto

3. PROTISTAS: unicelulares eucariontes que apresentam, dentre outras organelas citoplasmáticas, mitocôndrias, sistema golgiense, plastos ou cromatógoros - onde ficam as clorofilas a, b e c, além de vários outros pigmentos fotossintetizantes, como as ficoeritrinas, fucoxantinas e ficocianinas. As paredes celulares mais conhecidas podem ser de pectina, celulose e sílica. A forma de reprodução mais comum é a cissiparidade ou bipartição, portanto, assexuada. A sexuada pode formar células gaméticas, flageladas, ciliadas ou por pseudópodes. A maioria dos protistas estão amplamente distribuídos nos mais variados meios aquáticos e terrestres, havendo espécies que vivem em associações de mutualismo e outras de parasitismo.

3.1 AUTÓTROFOS: São algas na maioria plantônicas. Constituem parte significativa da base da rede trófica e dos produtores de oxigênio.

3.1.1 EUGLENÓFITAS: a Euglena viridis apresenta-se como célula alongada e bastante flexível, dotada de um longo flagelo (tátil, anterior), vários cloroplastos e parede celular ou película sem celulose. Vive no lago Paranoá, em charcos e terrenos lamacentos, ricos em matéria orgânica. Na ausência de luz assume nutrição heterotrófica. Através de uma pequena abertura na base do flagelo pode capturar partículas orgânicas, digerindo-as. Nessa mesma região possui um corpúsculo pigmentar chamado mancha ocelar ou estigma, de função fotorreceptora. Assim, ela é capaz de perceber variações de intensidade luminosa e ter reações de fototactismo positivo ou negativo, locomovendo-se no sentido da luz ou não, respectivamente.

3.1.2 PIRRÓFITAS: (piro = fogo) são marinhas, plantônicas e de formas variadas, podendo ser encontradas abundantemente no lago Paranoá. Esse organismo celular tem paredes rígidas, com placas bem definidas de celulose ou outras substâncias. Se movimentam por meio do batimento de dois flagelos (antigamente conhecidas como dinoflagelados dino = rotação), um deles terminal, o outro circular, se encaixando em marcados sulcos nas placas, proporcionando à célula movimentos de rotação. Nos plastos ou cromatóforos, além das clorofilas, existem outros pigmentos responsáveis pela vivacidade da cor vermelha. Algumas espécies podem atingir altos níveis de proliferação em presença de matéria orgânica (esgotos), provocando fenômeno conhecido como maré vermelha. Altas taxas de forte toxina são liberadas na água, provocando mortandade, inclusive humana, através do acúmulo da toxina na teia alimentar, nos litorais marinhos, lagos e lagoas. Existem espécies bioluminescentes visíveis em cristas de ondas ao luar (luz fria, azul esverdeada, provocada pela reação de uma proteína chamada luciferina com outra, a luciferase, na presença do oxigênio).

3.1.3 CRISÓFITAS: (criso = dourado) também chamadas diatomáceas, são abundantes no plâncton e sedimentos aquáticos, com suas frústulas bem encaixadas como saboneteiras de cristal (depois das campeãs de produtividade de oxigênio e fixação de nitrogênio, as cianobactérias, são as que mais fotossintetizam). Complexos desenhos com variadas formas geométricas podem ser encontrados na parede de sílica. Pelo espaço existente entre as metades que se encaixam pode ser expelida água o que promove lento deslocamento da célula. Não há flagelos. No citoplasma se encontram cromatóforos dourados e gotículas de óleo, que funcionam como material de reserva e facilitam a flutuabilidade. Em algumas regiões as frústulas depositadas no fundo de recursos hídricos durante milênios, deram origem a um tipo especial de rocha sedimentar bem leve e porosa, microgranulada, o diatomito, com largo emprego como material abrasivo para polimentos finos, cremes dentais, lixas especiais, filtros de piscinas e até como mistura para a fabricação de explosivos.

3.2 HETERÓTROFOS: PROTOZOÁRIOS. Habitam praticamente todos os ambientes aquáticos e solos úmidos desse planeta. Nutrem-se pela ingestão de alimentos e restos orgânicos. Há espécies predadoras e outras que vivem em mutualismo com muitos animais, como os flagelados do intestino de cupins, que digerem para eles a celulose. Há ainda espécies parasitas que atacam milhões de pessoas por ano, mais por falta de higiene e sanitarismo que pelas suas periculosidades.

3.2.1 ESTRUTURA: As membranas celulares podem ser simples ou películas mais resistentes. Muitos apresentam carapaça externa de quitina e calcário, com aspecto de concha de molusco. Outros têm placas de calcário e silício, associadas a raios ou eixos minerais de função esquelética. Nas espécies detritívoras ou nas que se alimentam de diferentes microorganismos, a entrada de partículas se faz por ingestão, através de pseudópodes, ou por uma pequena abertura existente em uma parte específica da película, o citóstoma. Formam-se ali vacúolos digestivos. Os restos não digeridos são expelidos por algum ponto da membrana ou por região específica da película. Há ainda grandes vacúolos pulsáteis (contráteis), comuns nas espécies de água doce, que controlam a defecação celular (clasmocitose) e a pressão osmótica, expulsando por contração brusca o excedente de água incorporada por osmose e dejetos nela acumulados. O Paramecium caudatum têm dois tipos de núcleos: um grande (macronúcleo), que controla as funções vegetativas, e um pequeno (micronúcleo), responsável pela transmissão de características genéticas. A reprodução pode ser por bipartição simples (cissiparidade), e esporulação (assexuadas). A sexuada consiste na conjugação, e na união de gametas (células reprodutoras complexas), caso de alguns parasitas.

3.2.2 RIZÓPODES: Locomoção por pseudópodes de vários tipos e reprodução por cissiparidade. Exemplos: amebas de vida livre e parasitas, foraminíferos (fósseis com até 15cm - Nummulites sp, presentes nas rochas usadas para a construção de pirâmides) e radiolários (marinhos, cujos esqueletos e espículas são formados de sílica e sulfato de estrôncio), além dos heliozoários (dulcícolas). Eles apresentam-se com diferentes tipos de pseudópodes, carapaças e esqueletos de composição mineral.

3.2.3 FLAGELADOS: Locomoção por flagelos (movimentos bruscos), que são filamentos longos, em pequeno número, com freqüência apenas um. Reprodução por cissiparidade. Exemplos: Trypanossoma Cruzi, T. gambiensis (causador da doença do sono, causa lesões meningoencefálicas, através da picada da mosca tse-tsé - Glossina sp), Trichomonas vaginalis (causam a tricomoníase: vaginite, uretrite e corrimento, através de relação sexual ou toalha e objetos úmidos contaminados), Leishmania brasiliensis (leishmaniose tegumentar americana - úlcera de Baurú, que causa ulcerações no rosto, braços e pernas, com necrose de tecidos conjuntivos, causadas pela picada do mosquito-palha ou birigui: Lutzomya sp), L. donovani (leishmaniose visceral - calazar - hipertrofia do baço e fígado, febre, enfraquecimento - picada do birigui), e Giardia lamblia (causa a giardíase: colite, com dores intestinais e diarréia, através da ingestão de cistos eliminados com as fezes humanas). Os flagelos são semelhantes aos dos animais, com a mesma ultra-estrutura filamentar (9 + 2) também presente nos cílios. Algums têm pseudópodes.

3.2.4 CILIADOS: Locomovem-se através de cílios, numerosos, curtos e com batimentos mais freqüentes. Cirros e membranelas são formações oriundas da fusão deles. Reprodução por cissiparidade (assexuada) e conjugação (sexuada). Exemplo: Paramecium caudatum. São os mais especializados, alguns tendo até neurofilamentos e centro coordenador do batimento ciliar. Outros têm cirros, que funcionam como pés; filamentos contráteis; ou tricocistos, microscópicos estiletes para a proteção, disparados quando atacados.

3.2.5 ESPOROZOÁRIOS: Ausência de organelas de locomoção. São todos parasitas. Reprodução por esporulação e sexuada, havendo células que se diferenciam em gametas no corpo do hospedeiro. Exemplo: Plasmodium ovale e Toxoplasma gondii (provoca cegueira, aborto e problemas neurológicos. Ë ingerido na forma de cistos expelidos com as fezes de gatos, que ficam em tanques de areia e no lixo).

3.2.6 PARASITAS: a Entamoeba histolytica causa a amebíase ou disenteria amebiana, que se caracteriza por cólicas, forte diarréia com sangue e anemia. A infestação ocorre por via oral, pela ingestão de cistos (formas de resistência), presentes nas águas e alimentos contaminados com fezes de doentes. No intestino humano cada cisto se rompe pela ação de enzimas digestivas e, por reprodução assexuada, libera quatro amebas que atacam as células da mucosa do trato digestivo, se alimentando de hemácias e causando ulcerações. Formas maiores e mais ativas chamadas trofozoítos são aí encontradas. Esses se reproduzem por bipartição e, no intestino grosso (cólon), alguns se transformam em cistos, sendo expelidos com as fezes, recomeçando o ciclo de infestação. Trypanossoma cruzi (cruzi em homenagem ao Dr. Oswaldo Cruz) é o agente etiológico (causador) da doença de Chagas ou tripanossomíase. Encontrado no sangue de animais como tatus, tamanduás, gambás, raposas e cutias, considerados seus reservatórios naturais. O cientista brasileiro Carlos Chagas iniciou, em 1909, estudos que o levam a descobrir os principais fatos relacionados com o ciclo biológico do parasita, como o inseto transmissor e os reservatórios naturais, descrevendo os sintomas da doença no ser humano. Trata-se de inseto hematófago, hemíptero, do gênero Triatoma, conhecido como barbeiro ou chupança. Esconde-se em buracos no chão, nas paredes e entre a palha da cobertura de casas de pau-a-pique. Durante a noite ele pica o rosto e defeca formas infestantes que podem adentrar o sistema circulatório através da coceira provocada pelo fim da ação anestésica da picada. Na região infectada surge edema característico chamado chagona. Instalando-se no tecido muscular, após circular pelo corpo contaminado, especialmente no coração, provoca miocardite, levando à morte por insuficiência cardíaca. No interior das fibras musculares se apresenta com forma esférica, sem flagelo e ativa reprodução assexuada por cissiparidade. Depois dessa fase, já com a forma flagelada, passa para a circulação periférica do doente, de onde chega ao intestino do inseto onde se divide longitudinalmente. A forma infestante passa às fezes do chupança em alguns dias, recomeçando o ciclo infeccioso. Plasmodium ovale afeta a mais de 200 milhões de pessoas no mundo, especialmente em regiões tropicais. Ataca células do sangue (hemácias) e de órgãos como o fígado, o baço e a medula vermelha dos ossos. A transmissão ocorre através da picada da fêmea do Anopheles sp, conhecido como mosquito-prego. Ficam nas glândulas salivares do inseto, de onde são inoculados na circulação do hospedeiro (neste caso intermediário, já que a fase sexuada da vida do parasita ocorre no artrópode). Uma vez inoculados, os parasitas penetram inicialmente nas células do fígado e do baço, órgãos nos quais ocorre sua reprodução assexuada (esquizogonia) durante alguns dias. Em grande número, migram para o sangue circulante e penetram nas hemácias, onde também sofrem esquizogonia (esta fase dura 48 horas no ciclo de vida do P. vivax). As hemácias se rompem, liberando na corrente sanguínea merozoítos, que penetram outras hemácias, recomeçando o ciclo. Também são liberadas toxinas no plasma, provocando tremores, suor, prostração e febre. Sendo a cada três dias, justifica o nome febre terçã podendo, dependendo do parasita, ser quartã. No interior de algumas hemácias originam-se formas sexuadas que se diferenciam em gametas se atingem o estômago do inseto, após a picada. Na luz do estômago do mosquito os gametas do protozoário se unem. O ovo formado se encista na parede do órgão originando, por reprodução assexuada (esporogonia) esporozoítos, alguns dos quais podem chegar às glândulas salivares do vetor e, daí, à corrente sanguínea do paciente. Também chamada impaludismo, febre terçã, maleita, febre impalustre, terçã maligna, terçã benigna, febre quartã, causa anemia, enfraquecimento geral, graves lesões no fígado, baço e medula óssea, além de estado de prostração durante e depois das crises. A profilaxia abrange medidas de saneamento para a erradicação das larvas do mosquito em recursos hídricos, além do uso preventivo de quinino e derivados, por via oral.


4. FUNGOS:

4.1 INTRODUÇÃO: Esse reino agrupa cerca de 10 mil espécies estudadas pela micologia. Como decompositores atacam toda a matéria orgânica, repondo os minerais no solo e nas águas. Micorrizas vivem associadas em mutualismo com raízes de plantas superiores, fixando nitrogênio do ar atmosférico (N2). A dispersão dos esporos dos fungos ocorre pelo ar, facilitando a sua queda nos mais variados substratos orgânicos. Germinam e formam longos filamentos, as hifas, que passam a se alimentar da matéria disponível. São heterótrofos por absorção (e não por ingestão como ocorre com os animais). Preferem ambientes úmidos e sem luz. Alguns atuam como fermentos, como o Saccharomyces cerevisae, transformando a maltose em cerveja e, posteriormente, em whysky.

4.2 ESTRUTURA: pode ter parede celular de quitina ou de celulose. Ao invés do amido, há grânulos de glicogênio dispersos no citoplasma. Em cada célula há um núcleo ou dois, pareados, além de ribossomos e mitocôndrias (não há plastos). Cenocíticas são as hifas dos fungos mais simples, ou bolores comuns. Não têm septos transversais separando células. Muitos núcleos compartilham a massa citoplasmática. São septadas hifas de fungos superiores (os cogumelos e as orelhas-de-pau). Podem ter um núcleo haplóide por célula ou dois núcleos pareados - dicarióticas (di = dois, cario = núcleo). O conjunto de hifas de um fungo, que crescem e se ramificam em extensas massas de finos filamentos, constitui o chamado micélio, que não é um verdadeiro tecido, pois células de hifas vizinhas não têm paredes comuns. Nos fungos superiores, o micélio se organiza em alguns pontos e aparece na superfície do solo ou no tronco podre como um talo ou corpo de frutificação, com a forma característica de cada espécie.

4.3 REPRODUÇÃO: Os mais simples se reproduzem apenas por esporos. Em Saccharomyces cerevisae há gemiparidade (pequenos brotos se formam na extremidade das células, e depois se soltam). Praticamente todos os fungos produzem esporos mitóticos ou assexuados (endósporos dos bolores comuns - Rhizopus sp e Mucor sp, conidiósporos - Aspergillus sp e Penicillium sp, e zoósporos - Saprolegnia sp), ou meióticos, dependendo do processo que os originou. Os meióticos são chamados sexuados, pois na sua formação ocorreu recombinação genética, caso dos ascósporos e basidiósporos.

4.4 ALTERNÂNCIA DE GERAÇOES: METAGÊNESE. Em Agaricus sp, um basidiomiceto conhecido como champignon, há fases haplóides e diplóides de vida. Nas lâminas da parte dilatada do basidiocarpo ou corpo de frutificação ocorre a meiose espórica, dela se originando esporos haplóides. A germinação dos esporos dá origem a extensos micélios subterrâneos, formados por hifas haplóides. Quando hifas de diferentes micélios se encontram (heterotalismo), ocorre a plasmogamia, reprodução sexuada que consiste na fusão de células inteiras. A partir delas surgem hifas diplóides, com dois núcleos pareados em cada célula (dicarióticas). Esse novo micélio continua crescendo e, em pouco tempo, as hifas se organizam para formar os corpos de frutificação, os basidiocarpos. Já fora da terra, o cogumelo adulto produz milhares de basídios, que são grandes células localizadas na superfície de lamelas radiais existentes na sua região superior. Somente no interior de cada basídio é que ocorre a fusão dos dois núcleos haplóides, seguida de meiose, formando-se assim quatro basidiósporos haplóides. A fase diplóide do ciclo de vida é representada pelo corpo de frutificação, ou basidiocarpo, e a fase haplóide, pelo micélio de hifas haplóides, mononucleadas.

4.5 ASCOMICETOS: São fungos superiores que têm hifas septadas. Ascocarpos são seus corpos de frutificação, podendo ter diferentes formas, predominando as arredondadas. Em todos há ciclo de alternância de gerações, mas as hifas produtoras dos ascos encontran-se na região central do fungo. Em cada asco ocorre inicialmente a fusão dos núcleos haplóides e, em seguida, a meiose. Os quatro núcleos resultantes sofrem mitoses e dão origem a oito ascósporos haplóides, liberados por ruptura do asco. Em algumas espécies, o corpo de frutificação, grande e esférico, rompe-se bruscamente, liberando no ar uma verdadeira nuvem de ascósporos, uma espécie de poeira clara. Os ascomicetos são também heterotálicos (suas hifas fecundantes provêm de micélios diferentes). A esse grupo pertencem as trufas, além do Aspergillus sp e Penicillium sp. Nesse último, Alexander Fleming (1929) descobriu a penicilina, o primeiro antibiótico.

4.6 LÍQUENS: Não é um ser vivo; são dois, resultantes da associação simbiótica do tipo mutualismo entre ascomicetos (geralmente) e algas unicelulares verdes ou cianobactérias. Absorvem vapor d'água e íons dissolvidos na água das chuvas, sendo por isso sensíveis à presença de poluentes no ar (bioindicadores). Sua presença em cascas de árvores ou pedras, indica pouca ou nenhuma poluição atmosférica. O talo ou corpo do líquen pode ter forma foliácea, incrustante ou filamentar ramificada. Nele podem ser vistas ao microscópio quatro camadas, ficando as algas apenas sob a camada externa, mais exposta à luz. Na camada inferior há hifas rizóides para fixação do talo no substrato. A reprodução dos liquens é feita pelos microscópicos sorédios, grupos de algas envolvidas por algumas hifas do fungo.Eles se destacam em vários pontos da superfície dos talos e se dispersam no ambiente, crescendo e se organizando em novos liquens. Usnea barbata, a barba-de-velho, é comum nas matas, crescendo pendente de ramos de árvores, como longos filamentos ramificados de cor branco-acinzentada. Nas tundras canadenses vários liquens constituem a principal dieta das renas durante os meses de inverno.