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Carta pela Diversidade

Brasília, 23 de fevereiro de 2006.

Caro Dr. Ozanan e Prof. Ênio,

Gostaria de parabenizá-los pelo belo trabalho de proteção, arborização e criação de áreas verdes em Brasília. Por perceber que seus objetivos são os mesmos que os meus: manter na cidade um ambiente de qualidade, tomo a liberdade de dar duas sugestões que, acredito, irão contribuir para que isso se realize.

Li que seriam plantadas várias espécies de árvores no Parque Ana Lídia, em grupos de 15, da mesma espécie. Gostaria de propor que as espécies fossem plantadas misturadas, como ocorre na natureza. A distância entre as mudas auxilia na prevenção de pragas e exigências nutricionais diferentes evitam o esgotamento do solo. A natureza é sábia.

É natural pensarmos em florestas homogêneas, como as de clima temperado, onde a maior parte dos indivíduos são de uma mesma espécie. As vemos em toda parte, pois os primeiros especialistas que chegaram aqui indicaram o plantio de florestas de pinheiros e eucaliptos, formando um cinturão ao redor de Brasília, inclusive na Fazenda Água Limpa, UnB. A literatura científica na área de engenharia florestal era quase toda baseada em estudos de florestas temperadas e, a princípio, não perceberam o potencial destes ambientes de árvores baixas, retorcidas e com uma incrível diversidade. Silva Júnior et al, 1988, apresentou uma lista com 446 espécies lenhosas somente no DF. O recorde de diversidade até hoje encontrado foi de 470 espécies de árvores diferentes, em 1hec de uma região de mata atlântica, na Bahia.

Além disso, gostaria de alertá-los para o fato de que muitas mudas de árvores nativas que tentam rebrotar estão sendo cortadas junto com a grama. O corte é como o fogo para elas, que possuem um sistema radicular bem desenvolvido, profundo e todo ano voltam a soltar novos ramos e folhas. Identifiquei duas Lobeiras durante minhas caminhadas no parque e me proponho a ajudar, assinalando os rebrotamentos que encontrar para que sejam protegidos por estacas. Lobeiras e cajuzinhos deram frutos depois de dois anos sem serem cortados pelas máquinas, numa área em recuperação na 611/612 sul. Sou bióloga e tenho feito diversos cursos e atividades ligadas ao cultivo, proteção e ecologia das espécies arbóreas, principalmente do Cerrado.

Agradeço a atenção e espero poder ajudar no difícil trabalho que é administrar as áreas verdes do DF.

Atenciosamente,

Laura Cavalieri Bisio

LOBEIRA
Solanum lycocarpum

Família: Solanaceae

Utilidade: fruto – utilizado no tratamento contra diabetes, comestível para mamíferos e aves. Presença do alcalóide solasodina – intermediário na síntese dos hormônios esteróides.

PAU-DE-LEITE
Hymathantus obovatus

Família: Apocynaceae

Utilidades: o chá da folha é usado para problemas de estômago, como gastrite e úlcera. Em MG o látex é usado como vermífugo. Em GO o leite é considerado estimulante da lactação.


CAJUZINHO-DO-CERRADO
Anacardium humile

Família: Anacardiaceae

Possui xilopódio: tuberosidade subterrânea lignificada.

Utilidade: Frutos – comestíveis. Pseudo-fruto – suco. Raiz – purgativa. Casca – inflamações de garganta. Folhas – antidisentérico, óleo da semente contra manchas de pele.

BURITI
Mauritia flexuosa

Família: Arecaceae (Palmae)

Utilidade: Na confecção de esteiras, vassouras, redes, cestos e chapéus. Fruto comestível. Óleo da polpa – sabão. Madeira – móveis. A seiva extraída do caule é utilizada na fabricação de vinho. A raiz curtida em vinho doce possui propriedades anti-reumáticas.

Bibliografia

Proença C, Oliveira RS e Silva AP. Flores e Frutos do Cerrado. Editora UnB, 2000

Ribeiro Silva S, Silva AP, Munhoz CB, Silva Jr. MC e de Medeiros, MB. Guia de Plantas do Cerrado Utilizadas na Chapada do Veadeiros. WWF, 2001.