GENÉTICA Hereditariedade
É a transferência de informações sobre as características
próprias de um ser vivo para outro de geração em geração,
por meio dos gametas ou por transferência direta de ácidos nucléicos
entre células. A Genética estuda as leis da hereditariedade.
Histórico Fantasias, preconceitos e idéias extravagantes
tentaram explicar durante séculos como os filhos herdam características
dos pais. Aristóteles, 400 anos antes de Cristo, foi o primeiro a sugerir
que o sêmen pudesse conter substâncias relacionadas com a hereditariedade.
Mas só em 1679 é que o microbiologista holandês Antoine van
Leeuwenhoek descobriu os espermatozóides e chamou-os animálculos.
Naquela época, acreditavam que cada espermatozóide continha
um ser humano em miniatura, o homúnculo. Houve quem sugerisse que o óvulo
feminino é que guardava o tal homúnculo. Outros fantasiavam que
cada homúnculo já continha dentro de si um outro homúnculo,
e assim sucessivamente. Somente no final do século XIX é
que se demonstrou que óvulo e espermatozóide unem-se na fecundação,
possibilitando o surgimento de um novo ser. Foi então que surgiu a idéia
dos gametas masculino e feminino, com o seu conteúdo hereditário.
Mendel, os fatores hereditários e os genes Johann Gregor
Mendel, monge de um mosteiro de Brno na República Tcheca, ao fazer experiências
com ervilhas, concluiu, em 1865, que cada característica do ser vivo é
determinada por um par de fatores hereditários. E que, na formação
dos gametas, esses fatores separam-se, fazendo com que cada gameta contenha um
fator relacionado a cada característica. Por isso, a hereditariedade, como
muitos pensavam, não seria a mistura das características dos pais
nos filhos. Ela obedecia a determinadas leis. No começo do século
XX, a Ciência encontrou os fatores hereditários no interior dos cromossomos
das células, os genes. Assim nascia a Genética, reconhecendo
Mendel como seu pai. Os trabalhos de Mendel, apresentados na Sociedade de
História Natural de Brno, para um público de quarenta pessoas, foram
ignorados por 35 anos.
O gene
Em 1908, o médico
inglês Archibald E. Garrod, ao examinar uma criança com alcaptonúria
(a falta de uma enzima não transforma a alcaptona, produto da tirosina,
excretando-a por inteiro na urina), cujos pais eram primos, foi o primeiro a sugerir
que uma alteração no organismo poderia ser hereditária.
Em 1941, George Beadle e Edward L. Tatum, em experiências com o bolor
róseo do pão, Neurospora crassa, observaram que a mutação
de um dos genes impedia a formação de uma enzima. A partir daí,
formularam a hipótese de que um gene codifica uma enzima. Como,
dez anos antes, já se havia demonstrado que as enzimas eram proteínas,
a hipótese logo foi corrigida: um gene codifica uma proteína.
Apesar de todo esse progresso, a natureza do gene ainda permanecia desconhecida.
O DNA havia sido descoberto em 1869. Na década de 1940, enquanto muitos
ainda defendiam que o gene era proteína, outros estavam convencidos de
que ele era composto de ácido desoxirribonucléico (DNA). Foi
pelos experimentos do bacteriologista inglês Frederick Griffith em 1929
e de outros cientistas, mais tarde, em 1944, que se observou que diversas características
genéticas também eram transferidas de uma para outra colônia
de bactérias pelo ácido desoxirribonucléico. Logo, reconheceu-se,
finalmente, o DNA como material genético, o gene. Atualmente, sabe-se
que o gene (ou gen) é uma seqüência de nucleotídeos em
um DNA. Cada gene é responsável pela síntese de uma
proteína e, conseqüentemente, por uma ou mais características
do indivíduo, pois as proteínas podem ter funções
estruturais e reguladoras do metabolismo. Os genes estão alojados nos
cromossomos e são didaticamente representados por letras, números
e símbolos. Por exemplo, o gene para cor de pele normal é simbolizado
por A e o gene para albinismo, por ª
Terminologia
A Genética, como ciência, apresenta certos termos específicos,
tais como genótipo, fenótipo, fenocópia, entre outros. Genótipo:
composição genética de um ser. É formado por um ou
mais pares de genes, responsáveis pela determinação de uma
ou mais características. O genótipo para cada caráter é
representado por letras, números, símbolos, já convencionados.
Cariótipo:
conjunto diplóide (2n) da célula recebido dos pais na fecundação.
Refere-se às características morfológicas dos cromossomos
(número, forma e tipos). Ser humano = 46 cromossomos Cariótipo
da mulher = 44A + XX Cariótipo do homem = 44A + XY (A simboliza os
cromossomos autossômicos e X e Y, os cromossomos sexuais.) Genoma:
conjunto haplóide (n) de genes, típicos da espécie, em uma
célula. Ser humano = 23 cromossomos Genoma da mulher = 22A + X Genoma
do homem = 22A + X ou 22A + Y Fenótipo: expressão visível
ou detectável da ação do gene, e as modificações
que possa sofrer por ação ambiental (aspecto liso ou rugoso de uma
ervilha, tipo sangüíneo e cor da pele, por exemplo). O fenótipo
pode ser modificado pelo ambiente (o cabelo escuro torna-se branco, por exemplo). Fenocópia:
alteração provocada no indivíduo quando o ambiente atua sobre
seu fenótipo. Os genes não se modificam (a pele clara pode escurecer
pela ação da luz solar, por exemplo). Caráter:
característica considerada em cada estudo (cor dos olhos, tamanho de uma
planta, peso, estatura, por exemplo). Locus gênico: lugar ocupado
pelo gene no cromossomo (plural: loci). Cromossomos homólogos:
cromossomos que aparecem aos pares nas células somáticas (2n). Um
deles vem do pai e o outro, da mãe. Cromossomos não-homólogos:
(ou heterólogos): cromossomos que não pertencem ao mesmo par. Genes
alelos (ou genes alelomórficos): genes que ocupam o mesmo locus em
cromossomos homólogos. Genes não-alelos: genes que se
localizam em loci diferentes. Alelo dominante: gene do par de alelos,
que consegue se expressar sozinho, inibindo a manifestação de seu
par. É representado geralmente por letras maiúsculas. Alelo
recessivo: gene, do par de alelos, que só se manifesta na ausência
do dominante. Geralmente é representado por letras minúsculas. Homozigose:
fenômeno pelo qual um par de genes alelos, sejam dominantes ou recessivos,
expressa-se na mesma intensidade. São chamados genes homozigotos. Heterozigose:
fenômeno pelo qual um par de genes, um dominante e um recessivo, tem expressão
diferente sobre o mesmo caráter. São chamados genes heterozitos. Penetrância:
corresponde à freqüência com que a característica determinada
por um gene se manifesta. Se a característica se manifesta em 100% dos
portadores, o gene tem penetrância total. Se não se manifesta em
100% dos portadores, a penetrância é parcial. Expressividade:
intensidade com que um gene se manifesta. Quando um gene se manifesta totalmente,
inibindo seu alelo, o caso é de dominância completa. Se a manifestação
do gene não inibe o efeito de seu alelo, o caso é de ausência
de dominância. Heredogramas
Os heredogramas, generalogias,
árvores genealógicas ou pedigrees são representações
gráficas das relações de parentesco e a incidência
de determinada característica genética em uma família. Os
indivíduos e suas condições são representados por
símbolos padronizados. O quadro de Punnett Na meiose,
os cromossomos homólogos separam-se um para cada gameta. Com isso, os genes
alelos também se separam. Quando os genes alelos são iguais (AA
ou aa), os gametas também serão iguais para aquela característica.
Quando os genes alelos são diferentes (Aa), os gametas podem ser de dois
tipos: A e a, para aquela característica. Assim, indivíduos
homozigotos produzem gametas iguais; os heterozigotos, gametas diferentes.
O quadro de Punnett é um diagrama em que se distribuem os gametas de um
genitor nas linhas e os do outro nas colunas. A combinação de linhas
e colunas dá a proporção entre genótipos dos possíveis
descendentes. Cruzamento-teste Também chamado retrocruzamento
ou teste-cross é um teste para descobrir se o genótipo da geração
parental é homozigoto ou heterozigoto. Para isso, o indivíduo com
fenótipo dominante e genótipo desconhecido é cruzado com
um indivíduo com fenótipo recessivo homozigoto. No caso das
ervilhas, sabe-se que o fenótipo dominante é o amarelo e o fenótipo
recessivo é o verde. Mas qual é o genótipo da ervilha amarela?
Para esclarecer, cruza-se fenótipo dominante com genótipo recessivo.
Se em F1 todos os descendentes forem amarelos, o genótipo em estudo é
homozigoto (VV). Se em F1 metade dos descendentes for amarela e a outra verde,
o genótipo é heterozigoto (Vv). A Primeira Lei de Mendel
Em suas experiências sobre hereditariedade, Mendel demonstrou que a
herança não é obra do acaso e sim determinada por leis.
Os experimentos Mendel escolheu a ervilha-de-cheiro por sofrer autofecundação,
ter ciclo de vida curto (inúmeras gerações em pouco tempo),
possuir órgãos reprodutores de fácil identificação,
ser cultivada com facilidade e produzir grande número de descendentes.
Tomou 34 variedades de sementes e, por dois anos, selecionou 22 delas, escolhendo
sete características. Começou cruzando plantas de linhagens
puras, admitindo que eram puras as plantas que, autofecundadas, originavam somente
plantas iguais a si mesmas. Cruzou plantas puras de sementes lisas com plantas
puras de sementes rugosas. Quando a primeira geração amadureceu,
ele abriu as vagens, esperando encontrar híbridos de plantas lisa e rugosa,
mas constatou que só havia ervilhas lisas. Era como se a característica
rugosa tivesse sumido. A seguir, deixou a primeira geração
cruzar entre si, livremente. Ao abrir as vagens, a grande constatação:
havia sementes lisas e rugosas. Ao todo, havia 5474 lisas e 1850 rugosas, uma
proporção aproximada de 3:1. Em outras palavras, a segunda geração
apresentava uma proporção entre sementes lisas e rugosas de ¾
e ¼ (ou 75% e 25%). Chamou a característica que prevaleceu
(lisa) de dominante e a que não se manifestou (rugosa) de recessiva. Denominou
a geração dos pais de geração parental (P), a primeira
geração (dos filhos) de F1 e a segunda de F2. O mistério
desvendado Mendel começou a entender que, de cada três sementes
lisas, uma era realmente lisa; as outras duas eram aparentemente lisas, pois continham
características para lisas e rugosas. Em outras palavras, eram híbridas.
Observou que a proporção de 3:1 se repetia nas outras seis características
analisadas. E foi aí que pensou na existência de uma lei que disciplinasse
a hereditariedade em ervilhas. A característica rugosa não aparece
nos descendentes, embora exista nos pais. Essa é a característica
mais marcante de um gene recessivo. A característica rugosa, ausente
na geração F1, reaparece na geração F2, confirmando
a sua condição de fenótipo recessivo. As hipóteses
Mendel explicou os resultados, formulando algumas hipóteses: 1ª
Cada característica é determinada por um par de fatores hereditários. 2ª
Um dos fatores é herdado do pai e o outro da mãe. 3ª Os
indivíduos puros, para certa característica, têm os fatores
iguais. Os indivíduos híbridos, para certa característica,
têm os fatores diferentes entre si. 4ª Se dois fatores são
diferentes, apenas um deles se manifesta (dominante), enquanto o outro permanece
encoberto (recessivo). 5ª Na produção dos gametas, os fatores
de cada par segregam-se (separam-se). Os gametas possuem apenas um dos fatores
de cada par. No indivíduo puro, os gametas têm fatores iguais. Os
indivíduos híbridos têm dois tipos de gameta na mesma proporção.
A Primeira Lei A partir das hipóteses formuladas, Mendel
propôs a Primeira Lei da Herança, mais tarde conhecida como Primeira
Lei de Mendel: Cada característica é determinada por um par de fatores
que se segregam na formação dos gametas, os quais são sempre
puros. Em outras palavras: Os genes alelos segregam-se na formação
dos gametas, uma para cada gameta resultante. A Primeira Lei de Mendel é
chamada Lei da Segregação dos Fatores, pois deixou claro que os
fatores hereditários se separam na formação dos gametas.
Também é chamada Lei da Pureza dos Gametas, pois tornou evidente
que não existe gameta híbrido (apenas um fator de cada característica
está presente no gameta). A proporção fenotípica para
a Primeira Lei de Mendel é 3:1; a proporção genotípica
para a Primeira Lei de Mendel é 2:1.
Teoria Cromossômica
da Herança
Após se sugerir que os pares de fatores hereditários
estariam presentes nos cromossomos homólogos e que a segregação
dos homólogos causava a segregação dos fatores, formulou-se
a Teoria Cromossômica da Herança. Segundo essa teoria, os genes alelos
situam-se nos mesmos loci, em cromossomos homólogos. Em 1905, o
biólogo holandês W. Johannsen criou a palavra gene (genos, origem),
substituindo o termo fator, criado por Mendel. Fundamentos de probabilidades
Uma das causas do sucesso de Mendel foi interpretar estatisticamente seus resultados.
Em Genética, muitas vezes é necessário estimar matematicamente
quantas vezes determinado caráter tem a possibilidade de aparecer. A probabilidade
(P) de um evento acontecer é dada pela relação entre o número
de eventos desejados e o número de eventos possíveis. P = número
de eventos desejados / número de eventos possíveis. Quando se
joga uma moeda para cima, ela pode cair com a cara ou com a coroa para cima. A
moeda tem duas faces (número de eventos possíveis), mas você
só quer uma delas (número de eventos desejados). Assim: P (cara)
= eventos desejados / eventos possíveis = ½. A probabilidade
de se obter cara, por exemplo, é de ½ ou 50%.
Outro exemplo
é o das cartas de baralho. Qual a chance de se retirar um ás de
copas, de um baralho de 52 cartas, em uma única tentativa? P (ás
de copas) = eventos desejados / eventos possíveis = 1/52. A chance é
de 1/52 ou 1,92%. Mas e a probabilidade de se retirar um ás qualquer?
Agora temos quatro eventos desejados (ouros, espadas, paus e copas) entre os 52
eventos possíveis (número de cartas): P (ás) = eventos desejados
/ eventos possíveis = 4/52 = 1/13. As chances aumentaram e, agora, são
de 1/13 ou 7,69%.
Soma de probabilidades: regra do OU
Quando
os eventos são mutuamente excludentes, isto é, a ocorrência
de um impede a ocorrência do outro, e deseja-se saber a probabilidade de
sua ocorrência, devem-se somar as probabilidades dos eventos isolados.
Exemplo: Em um dado normal, com seis faces, deseja-se saber qual a probabilidade
de se obter face 4 ou face 6. Sabe-se que a probabilidade de se obter uma das
faces de um dado em um só lançamento é igual a 1/6: P (4)
= 1/6, P (6) = 1/6. P (4 ou 6) = P (4) + P (6) = 1/6 + 1/6 = 2/6 = 1/3 ou 33,3%.
Assim, temos cerca de 33,3% de chance de obter 4 ou 6 no lançamento de
um dado. Veja que as possibilidades de eventos isolados foram somadas. Multiplicação
de probabilidades: regra do E
Para saber a probabilidade de dois ou
mais eventos independentes ocorrerem ao mesmo tempo, multiplicam-se suas probabilidades
isoladas. Exemplo: A probabilidade de, ao jogar uma moeda para cima, cair
com a face cara para cima ao mesmo tempo em que se joga um dado e se obtém
a face 4 é: P (cara) = ½, P (4) = 1/6. P (cara e 4) = P (cara) X
P (4) = ½ X 1/6 = 1/12 ou 8,33%. Por exemplo: Deseja-se saber a
probabilidade de, no nascimento consecutivo de duas crianças, a primeira
ser menino e a segunda, também menino. Como o nascimento de menino na primeira
gestação não influencia o nascimento de menino na segunda,
esses são eventos independentes. Então, devem-se multiplicar as
probabilidades isoladas: P (1º menino) = ½, P (2º menino) = ½.
P (menino na 1ª e na 2ª gravidez) = ½ X ½ = ¼ ou
25%.
Na próxima, monoibridismo e alelos múltiplos. Bibliografia:
Coleção Delta - Ensino Médio - Biologia Integrada
- Luiz Eduardo Cheida (Volume Único) - FTD/SP - 2003
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