Ao longo dos séculos, várias hipóteses foram formuladas
por filósofos e cientistas na tentativa de explicar como teria surgido
a vida em nosso planeta. Até o século XIX, imaginava-se que os
seres vivos poderiam surgir não só a partir do cruzamento entre
si, mas também a partir da matéria bruta, de uma forma espontânea.
Essa idéia, proposta há mais de 2 000 anos por Aristóteles,
era conhecida pôr geração espontânea ou abiogênese.
Os defensores dessa hipótese supunham que determinados materiais brutos
conteriam um "princípio ativo", isto é, uma "força"
capaz de comandar uma série de reações que culminariam
com a súbita transformação do material inanimado em seres
vivos.
O grande poeta romano Virgílio (70 a.C.-19 a.C.), autor das Écoglas
e da Eneida, garantia que moscas e abelhas nasciam de cadáveres em putrefação.
Já na Idade Média, Aldovandro afirmava que, o lodo do fundo das
lagoas, poderiam, poderiam nascer patos e morcegos. O padre Anastásio
Kircher (1627-1680), professor de Ciência do Colégio Romano, explicava
a seus alunos que do pó de cobra, espalhado pelo chão, nasceriam
muitas cobras.
No século XVII, o naturalista Jan Baptiste van Helmont (1577-1644), de
origem belga, ensinava como produzir ratos e escorpiões a partir de uma
camisa suada, germe de trigo e queijo.
Nesse mesmo século, começaram a surgir sábios com novas
ideias, que não aceitavam a abiogênese e procuravam desmascará-la,
com suas experiências baseadas no método científico.
Abiogênose X biogênese
Em meados do século XVII, o biólogo italiano Francesco Redi (elaborou
experiências que, na época, abalaram profundamente a teoria da
geração espontânea. Colocou pedaços de carne no interior
de frascos, deixando alguns abertos e fechando outros com uma tela. Observou
que o material em decomposição atraía moscas, que entravam
e saíam ativamente dos frascos abertos. Depois de algum tempo, notou
o surgimento de inúmeros "vermes" deslocando-se sobre a carne
e consumindo o alimento disponível. Nos frascos fechados, porém,
onde as moscas não tinham acesso à carne em decomposição,
esses "vermes" não apareciam . Redi, então, isolou alguns
dos "vermes" que surgiram no interior dos frascos abertos, observando-lhes
o comportamento; notou que, após consumirem avidamente o material orgânico
em putrefação, tornavam-se imóveis, assumindo um aspecto
ovalado, terminando por desenvolver cascas externas duras e resistentes. Após
alguns dias, as cascas quebravam-se e, do interior de cada unidade, saía
uma mosca semelhante àquelas que haviam pousado sobre a carne em putrefação.
A experiência de Redi favoreceu a biogênese, teoria segundo a qual
a vida se origina somente de outra vida preexistente.
Quando Anton van Leeuwenhoek (1632-1723), na Holanda, construindo microscópios,
observou pela primeira vez os micróbios, reavivou a polêmica sobre
a geração espontânea, abalando seriamente as afirmações
de Radi.
Foi na Segunda metade do século passado que a abiogênese sofreu
seu golpe final. Louis Pasteur (1822-1895), grande cientista francês,
preparou um caldo de carne, que é excelente meio de cultura para micróbios,
e submeteu-o a uma cuidadosa técnica de esterilização,
com aquecimento e resfriamento. Hoje, essa técnica é conhecida
como "pasteurização".
Uma vez esterilizado, o caldo de carne era conservado no interior de um balão
"pescoço de cisne".
Devido ao longo gargalo do balão de vidro, o ar penetrava no balão,
mas as impurezas ficavam retidas na curva do gargalo. Nenhum microrganismo poderia
chegar ao caldo de carne. Assim, a despeito de estar em contato com o ar, o
caldo se mantinha estéril, provando a inexistência da geração
espontânea. Muitos meses depois, Pasteur exibiu seu material na Academia
de Ciências de Paris. O caldo de carne estava perfeitamente estéril.
Era o ano de 1864. A geração espontânea estava completamente
desacreditada.
Como surgiu o primeiro ser vivo?
Desmoralizada a teoria da abiogênese, confirmou-se a idéia de Prayer:
Omne vivium ex vivo, que se traduz por "todo ser vivo é proveniente
de outro ser vivo". Isso criou a seguinte pergunta: se é preciso
um ser vivo para originar outro ser vivo, de onde e como apareceu o primeiro
ser vivo?
Tentou-se, então, explicar o aparecimento dos primeiros seres vivos na
Terra a partir dos cosmozoários, que seriam microrganismos flutuantes
no espaço cósmico. Mas existem provas concretas de que isso jamais
poderia ter acontecido. Tais seres seriam destruidor pelos raios cósmicos
e ultravioleta que varrem continuamente o espaço sideral.
Em 1936, Alexander Oparin propõe uma nova explicação para
o origem da vida. Sua hipótese se resume nos seguintes fatos:
• Na atmosfera primitiva do nosso planeta, existiriam metano, amônia,
hidrogênio e vapor de água.
• Sob altas temperaturas, em presença de centelhas elétricas
e raios ultravioleta, tais gases teriam se combinado, originando aminoácidos,
que ficavam flutuando na atmosfera.
• Com a saturação de umidade da atmosfera, começaram
a ocorrer as chuvas. Os aminoácidos eram arrastados para o solo.
• Submetidos a aquecimento prolongado, os aminoácidos combinavam-se
uns com os outros, formando proteínas.
• As chuvas lavavam as rochas e conduziam as proteínas para os
mares. Surgia uma "sopa de proteínas" nas águas mornas
dos mares primitivos.
• As proteínas dissolvidas em água formavam colóides.
Os colóides se interpenetravam e originavam os coacervados.
• Os coacervados englobavam moléculas de nucleoproteínas.
Depois, organizavam-se em gotículas delimitadas por membrana lipoprotéica.
Surgiam as primeiras células.
• Essas células pioneiras eram muito simples e ainda não
dispunham de um equipamento enzimático capaz de realizar a fotossíntese.
Eram, portanto, heterótrofas. Só mais tarde, surgiram as células
autótrofas, mais evoluídas. E isso permitiu o aparecimento dos
seres de respiração aeróbia.
• Atualmente, se discute a composição química da
atmosfera primitiva do nosso planeta, preferindo alguns admitir que, em vez
de metano, amônia, hidrogênio e vapor de água, existissem
monóxido de carbono, dióxido de carbono, nitrogênio molecular
e vapor de água.