Grupo: Anderson, Douglas, Rodrigo
O progresso científico decorre não só de descobertas importantes,
mas principalmente do esforço sistemático para interpretar os
fenômenos. Como a criação científica é metódica,
mesmo as descobertas feitas por acaso têm antecedentes que se apóiam
na metodologia científica, pois o acaso só pode ser fecundo se
o pesquisador estiver preparado para explorá-lo.
Metodologia científica é o estudo sistemático e lógico
dos métodos empregados nas ciências, seus fundamentos, sua validade
e sua relação com as teorias científicas. Em geral, o método
científico compreende basicamente um conjunto de dados iniciais e um
sistema de operações ordenadas adequado para a formulação
de conclusões, de acordo com certos objetivos predeterminados.
Origem e razão da metodologia. O objetivo primordial de toda ciência
é aproximar o homem dos fenômenos naturais e humanos por meio da
compreensão e do domínio dos mecanismos que os regem. Essa aproximação
não requer formulações prévias de nenhum tipo, pois
os estímulos externos chegam à mente humana por meio dos sentidos
e o acúmulo de experiências sensoriais e intelectuais supõe
por si mesmo um certo grau de conhecimento de cada indivíduo.
A assimilação indiscriminada de percepções pode
gerar erros de interpretação, lapsos e captação
insuficiente das informações recebidas. Por isso, a ciência
precisa estabelecer regras que ajudem a classificar, registrar e interpretar
os dados da percepção, o que garante ao mesmo tempo economia de
tempo e um sistema de transmissão racional do saber entre as gerações.
O emprego da metodologia científica tem por objetivo, pois, solucionar
as questões relativas à classificação de dados,
segundo critérios preestabelecidos, e orientar as pesquisas futuras,
além de facilitar o treinamento de especialistas. Pelo fato de selecionar
dados iniciais, toda metodologia se impregna de uma filosofia particular que
se resume nas conclusões a que conduz. A experiência histórica
demonstrou que a excessiva rigidez nos postulados limita, mais do que favorece,
o desenvolvimento de novas idéias e descobertas. Por essa razão,
as últimas tendências metodológicas observam como princípios
fundamentais a flexibilidade e o espírito aberto à evolução
do pensamento humano.
Evolução histórica. A origem remota do método científico
situa-se na Grécia clássica, com o nascimento da dialética,
que se apresentava como método de pesquisa e busca da verdade por meio
da formulação adequada de perguntas e respostas. A primeira pergunta
relaciona-se à definição do tema do diálogo, ou
debate. Obtida a resposta, faz-se nova pergunta com base no conteúdo
da primeira resposta e assim por diante, até chegar à verdade.
A dialética foi, portanto, uma precursora da lógica.
Os métodos gregos não sofreram grandes modificações
no Ocidente até o século XVII, quando o saber científico
acumulado exigiu uma revisão da metodologia. As influências das
idéias humanísticas do Renascimento, que compreendiam o homem
como ser criador e investigador do cosmo, se viram plasmadas no método
hipotético-dedutivo, inaugurado por Galileu. Este estabeleceu um novo
método para a ciência natural ao combinar o uso da linguagem matemática
na construção das teorias com o recurso aos experimentos que permitem
comprovar empiricamente as hipóteses científicas. Segundo seus
postulados, a partir da construção de hipóteses, o método
científico deve obter uma lei geral, de preferência expressa em
linguagem matemática, que permita, além da compreensão
dos fatos, prever o comportamento futuro de um sistema físico sob condições
conhecidas.
Ainda durante o século XVII, o inglês Francis Bacon defendeu o
método indutivo na ciência experimental, segundo o qual as leis
gerais que regem os fenômenos particulares podem ser estabelecidas a partir
da observação e repetição das regularidades dos
fenômenos particulares.
As proposições aparentemente opostas de Bacon e Galileu se sustentavam
em princípios análogos, ao aceitar a experiência como fonte
primitiva do saber, o raciocínio como mecanismo de estudo e os fenômenos
naturais como fatos determinados e reconhecíveis a partir da observação.
Descartes, na obra Discours de la méthode (1637; Discurso sobre o método),
questiona a certeza sobre a existência da realidade apreendida pelos sentidos.
Introduziu a dúvida metódica, que consiste em duvidar de tudo
o que é dado pelos sentidos, e mesmo da matemática, o que leva
à única certeza: a consciência de duvidar, que leva à
consciência de existir. Essa evidência, expressa na frase "penso,
logo existo", seria a única verdade inquestionável. As ciências
seriam fundadas em evidências racionais e a matemática, em evidências
intelectuais.
A estrutura metodológica da ciência moderna, apoiada na comprovação
dos fenômenos por meio de leis de inspiração matemática
imutáveis no tempo, sofreu um forte revés com as doutrinas evolucionistas
do século XIX e das teorias quântica e relativista, no início
do século XX. Segundo as novas interpretações, toda formulação
científica estava condicionada pela realidade circundante e o tempo e
o espaço constituíam entidades inter-relacionadas variáveis
em função do meio. A forte carga lógico-matemática
dessas teorias influenciou de forma decisiva a metodologia das ciências,
que passou a adotar os princípios de axiomatização e enunciado
dos problemas propostos pelos matemáticos David Hilbert e Kurt Gödel.
O século XX também testemunhou a afirmação das ciências
humanas, surgidas como tais no século XIX, e sua preocupação
em adquirir uma base metodológica, inspirada na física, com o
que deixaram definitivamente de ser consideradas disciplinas subordinadas. A
história, a economia e a sociologia construíram elaborados sistemas
de hipóteses e princípios, cuja variedade originou numerosas e
controvertidas escolas de pensamento.
A distinção entre matérias científicas e não-científicas
foi tratada no século XX, entre outros, pelo filósofo Karl Popper,
que estabeleceu a noção de falsificabilidade como critério
dedutivo de validação das teorias científicas. Segundo
esse princípio, o pesquisador busca descobrir uma exceção
ao postulado que deseja demonstrar. A ausência de evidência que
contrarie o postulado converte-se em prova de sua validade. De acordo com Popper,
disciplinas como a astrologia, a metafísica, o materialismo histórico
e a psicanálise não são ciências do ponto de vista
empírico, já que não podem ser submetidas ao princípio
da falsificabilidade.
Processos metodológicos gerais. A física, impulsionada pelo grande
número de descobertas realizadas num período relativamente curto,
adotou uma metodologia de estudo que evoluiu com o progresso da própria
ciência. As demais ciências calcaram seus métodos no modelo
da física e incorporaram os enunciados lógicos e matemáticos
para exprimir seus próprios resultados.
De modo geral, o raciocínio dedutivo consiste em propor um conjunto de
postulados gerais, a partir dos quais se obtêm resultados aplicáveis
a eventos de natureza mais restrita -- ou seja, parte-se do geral para chegar
ao particular. O método indutivo, ao contrário, constrói
modelos e leis a partir de casos particulares, pelo uso de mecanismos lógicos
de generalização.
O enfoque analítico consiste em decompor o objeto em suas partes constituintes
para formular problemas mais simples, ou seja, parte do complexo e mais geral
para chegar ao simples e particular. O método sintético procede
de modo oposto: reúne aspectos particulares dispersos para obter resumos
e associações de idéias, procedendo do simples para o complexo.
Outros processos que participam da metodologia científica são:
a definição rigorosa do objeto de estudo; os sistemas de classificação,
com divisões e subdivisões; os instrumentos de medida e os sistemas
de unidades; a variabilidade das condições que interferem sobre
os fenômenos estudados etc.
Princípios da metodologia científica. Como a estrutura do saber
se baseia no cotejo de proposições abstratas com fenômenos
reais observados, distinguem-se, de modo geral, duas atitudes opostas do enfoque
científico, conhecidas como empirismo e racionalismo.
A abordagem empírica pura leva em conta apenas os dados iniciais e os
resultados de um estudo, razão pela qual começa por descartar
as teorias sem plena comprovação experimental. O enfoque racionalista,
ao contrário, confronta os postulados teóricos, produzidos pelo
pensamento lógico, com qualquer resultado prático, e subordina
a investigação à hipótese. Em geral, as metodologias
científicas utilizam modelos híbridos, que incluem as questões
empíricas -- nunca isentas de certo racionalismo, uma vez que aceitam
os sentidos e os instrumentos de medida como únicas fontes de informação
-- e as questões teóricas, que trazem, não obstante, um
lastre prático.
A maior parte das ciências aceita a experimentação como
primeiro e último elo da cadeia do saber. Assim, o processo do conhecimento
se inicia com a observação de um fato e finaliza com a comprovação
empírica de suas conclusões teóricas. Segundo essa interpretação,
toda disciplina científica será tanto mais eficaz quanto maior
for a quantidade de fenômenos que interpreta, com uma boa aproximação
dos casos reais, ou seja, desde que possam ser verificados na prática.
Isso não significa que os princípios dogmáticos, característicos
do século XVIII, e os predominantemente estatísticos, adotados
por alguns pesquisadores contemporâneos, não interpretem corretamente
a realidade, mesmo quando desprezam grande número de variáveis
importantes. Dentro do pensamento científico, cabem ainda atitudes filosóficas
ou interpretativas que indicam várias tendências de pensamento:
a abordagem histórica, na qual o estudioso valoriza as variáveis
determinadas pelo momento social e político, ao mesmo tempo que procura
inferir conclusões teórico-práticas de validade geral;
a abordagem heurística, ou aplicada, baseada na busca de leis gerais
que, do modo mais preciso possível, governem o comportamento dos fatos
naturais; e a abordagem axiomática, que busca enumerar os princípios
básicos que descrevem as condições do trabalho previamente
ao estudo aprofundado do problema.
As metodologias contemporâneas se caracterizam por uma visão mais
aberta, e evitam estabelecer axiomas excessivamente numerosos ou específicos.
Além disso, compartilham um conjunto de princípios fundamentais:
a aceitação da experiência, e não da idéia,
como fonte de conhecimento primordial; a valorização da utilidade
como fim último; e a construção de modelos, que, mais que
explicar a realidade, procuram sistematizar o acervo das experiências
humanas.
Ciência; Empirismo; Epistemologia; Hipótese; Racionalismo
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