Histologia

Aluno: Damsley Lima

Os antigos anatomistas acreditavam que o corpo humano era formado de ossos, sangue, humores, glândulas, pele e músculos. Com a descoberta do microscópio, os cientistas puderam observar os diferentes tecidos e souberam como se organizam os órgãos para desempenharem as funções vitais.
Histologia é o ramo da anatomia que estuda a estrutura e a forma dos tecidos vivos, agrupamentos de células dotados de organização específica que realizam uma determinada função nos organismos.
Histórico. Durante séculos, o estudo da anatomia humana se baseou na dissecação de vísceras e órgãos e na observação de sua forma e configuração. Pela inexistência de instrumentos e técnicas adequadas para aprofundar a observação, era limitado o conhecimento que se tinha da estrutura do corpo. Depois da invenção do microscópio, os anatomistas e naturalistas Marcello Malpighi, Jan Swammerdam e Marie-François-Xavier Bichat se dedicaram ao estudo dos tecidos. Bichat relacionou 21 tipos de tecidos humanos, em sua maior parte identificados com órgãos ou com substâncias produzidas por estes.
O termo histologia foi criado no princípio do século XIX. Desde então, essa disciplina progrediu rapidamente e passou a incluir o estudo dos tecidos de outros vertebrados, dos invertebrados e dos vegetais. Alguns dos cientistas que mais colaboraram para a evolução da histologia foram os alemães Hugo von Mohl e Friedrich Gustav Jacob Henle, o francês Louis-Antoine Ranvier e o espanhol Santiago Ramón y Cajal.
Tipos de tecidos. Os tecidos orgânicos humanos podem ser divididos em epitelial, conjuntivo, nervoso e muscular. Derivam dos três folhetos blastodérmicos (que dão origem aos órgãos) do embrião. O tecido epitelial vem do ectoderma, mesoderma e endoderma; o nervoso, do ectoderma; o conjuntivo e o muscular, do mesoderma. Os tecidos são compostos de células e substâncias intercelulares, produzidas, em geral, à custa da própria atividade celular.
Tecido epitelial. Os epitélios são formados de células poliédricas e têm como principais funções o revestimento de superfícies, com finalidade de proteção (como a epiderme), de absorção (epitélio intestinal), de secreção (glândulas) e sensorial (papilas gustativas e mucosa olfativa). Nos anfíbios, o epitélio de revestimento superficial desempenha também funções de proteção e de absorção. Os epitélios têm como características principais: (1) a ausência de substância intercelular; (2) a presença de uma lâmina basal na região de transição para o tecido conjuntivo (apesar de aparecerem ao microscópio como estruturas contínuas); (3) a coesão entre as células, em especial nos epitélios de revestimento protetor; (4) e a polaridade das células.
Os epitélios de revestimento, que recobrem a superfície externa do corpo e das cavidades interiores, são em geral constituídos de uma única camada de células, assentada sobre uma membrana basal. Um exemplo desse tipo de epitélio se encontra nos vasos capilares, cujo revestimento interno é formado de células achatadas. Há ainda o tipo estratificado, em que as células se dispõem em camadas. Nesse caso, a membrana basal (ou camada germinativa) se reproduz permanentemente por mitose.
Muitos epitélios de revestimento podem apresentar, como ocorre na pele, um processo de corneificação, que consiste na deposição da proteína queratina nas células, com função mecânica e isolante. Outros epitélios têm função de absorção de substâncias iônicas e não-iônicas. É o caso do epitélio de revestimento do aparelho digestivo, que absorve íons de sódio para o interior do organismo. Glicose e aminoácidos também são transportados ativamente por esse epitélio.
A presença de células cujo produto de secreção tem constituição química diferente do líquido intersticial caracteriza o epitélio glandular. Geralmente, o processo de secreção é acompanhado de síntese intracelular de macromoléculas, que se depositam no interior da célula e são liberadas no momento adequado. As glândulas podem ser unicelulares ou pluricelulares; endócrinas, quando lançam o produto de secreção diretamente na circulação; e exócrinas, quando o conduzem por meio de dutos para a superfície do epitélio.
Tecido conjuntivo. As principais funções do tecido conjuntivo são de sustentação e preenchimento, de forma a manter a estrutura dos outros tecidos. Tem ainda finalidades de reparação, defesa e nutrição. A função de nutrição decorre da íntima associação desse tipo de tecido com os vasos sanguíneos, enquanto a defesa depende da produção de anticorpos e da existência de células com atividade fagocitária.
O tecido conjuntivo se caracteriza por uma grande variedade de células, com abundante material intercelular. Esse material é constituído de uma substância fundamental amorfa, na qual estão mergulhadas fibras colágenas, elásticas e reticulares. As células características do tecido conjuntivo são: (1) fibroblasto, que se encarrega da formação da substância amorfa e de fibras; (2) macrófago, célula de defesa do organismo, capaz de ingerir partículas líquidas (pinocitose) ou sólidas (fagocitose); (3) célula mesenquimatosa indiferenciada, capaz de originar qualquer tipo de célula do tecido conjuntivo; (4) mastócito, que sintetiza heparina (anticoagulante) e histamina, substância que tem ação direta no aumento da permeabilidade dos vasos capilares; (5) plasmócito, cuja função principal é sintetizar gamaglobulinas específicas, ou seja, anticorpos de uma grande variedade de antígenos; (6) células adiposas, que armazenam gorduras neutras em vacúolos citoplasmáticos; e (7) leucócito, ou glóbulo branco do sangue, célula móvel com função de defesa, que pode se deslocar entre o sangue e o tecido conjuntivo.
Há diversos tipos de tecido conjuntivo. O tecido conjuntivo propriamente dito é aquele que, além das células e da substância amorfa, apresenta uma quantidade variável de fibras colágenas. De acordo com a quantidade dessas fibras, ele pode ser classificado como frouxo ou areolar (pouca quantidade de fibras) ou denso (grande quantidade de fibras). O tecido conjuntivo frouxo tem função de preenchimento e de sustentação para epitélios e tecido muscular. O tecido conjuntivo denso, resistente à tração devido à quantidade de fibras, está situado nas áreas em que predomina esse tipo de esforço, como, por exemplo, nos tendões. O tecido conjuntivo pode apresentar fibras especializadas, como as reticulares (nos órgãos hematopoéticos ou produtores de sangue) e as elásticas (ligamento amarelo da coluna vertebral e artérias de grande calibre).
O tecido adiposo é um tipo de tecido conjuntivo constituído de células ricas em gorduras neutras, depositadas em vacúolos intracelulares que muitas vezes ocupam todo o volume da célula. O tecido cartilaginoso, tecido conjuntivo formado por células denominadas condrócitos -- que produzem grande quantidade de substância amorfa (matriz) --, caracteriza-se pela resistência e elasticidade. A matriz é formada por glicoproteínas de elevado peso molecular, associadas a colágeno solúvel e fibroso, além de fibras de elastina. As cartilagens podem ser hialinas, com poucas fibras na matriz; elásticas, com grande quantidade de fibras elásticas, além de fibras colágenas; e fibrosas, com muitas fibras colágenas. A matriz das cartilagens está sempre sendo produzida e refeita pelos condrócitos.
Altamente resistente, o tecido ósseo é um tipo de tecido conjuntivo que desempenha a importante função de proteção do sistema nervoso central. Também sustenta e apóia a musculatura esquelética, de forma a permitir a realização de movimentos e a manutenção da postura. Três tipos de células formam o tecido ósseo -- osteócitos, osteoblastos e osteoclastos. Os osteócitos são células do osso, intimamente relacionadas com a produção do componente mineral do tecido a partir do fosfato de cálcio. Os osteoblastos fazem a síntese do material orgânico da matriz, e os osteoclastos, células gigantes, polinucleadas, móveis, tornam o osso uma estrutura dinâmica, passível de se adaptar a novas condições e esforços. A ação dos osteoclastos pode ser resultado da liberação de enzimas que atacam a matriz orgânica do osso.
Tecido nervoso. Constituído de um tipo de célula que não se reproduz, o neurônio, o tecido nervoso tem como principal função o transporte e o processamento de informações ao longo do sistema nervoso. A sustentação dos neurônios é exercida por outro tipo de célula do tecido, a célula glial. No tecido nervoso, a substância cinzenta é formada por agrupamentos de neurônios, enquanto a substância branca se constitui de feixes e prolongamentos dos neurônios, as fibras nervosas.
Tecido muscular. Pela transformação de energia química em energia mecânica, o tecido muscular realiza o trabalho mecânico do corpo. Nos mamíferos, existem três diferentes tipos de células musculares: a esquelética, a cardíaca e a lisa. A esquelética é estriada e disposta em feixes paralelos, de modo a permitir a realização de grandes trabalhos mecânicos. É multinucleada, apresenta grande quantidade de fibras no citoplasma e está sujeita a controle voluntário. A célula cardíaca, também estriada, apresenta ramificações responsáveis pela interligação das células, o que permite a difusão da onda de contração, que é involuntária e rítmica. A célula muscular lisa não apresenta estriações, também é de controle involuntário, mas de contração lenta. Está localizada, por exemplo, no tubo digestivo, ureteres, vasos sangüíneos e trompas.
Tecidos vegetais. Os vegetais inferiores, como algas e liquens, não apresentam tecidos, já que são compostos de uma estrutura vegetativa mais ou menos uniforme denominada talo, que muitas vezes adota a forma de lâmina e em outras pode se ramificar. As plantas superiores apresentam grande variedade de tecidos, com os quais o vegetal realiza as diferentes funções necessárias a sua subsistência. A condução da seiva se faz pelos tecidos condutores: o tecido lenhoso ou xilema, constituído de vasos lignificados (com paredes endurecidas pela acumulação de uma substância chamada lignina), que leva água e sais minerais absorvidos pelas raízes até as folhas e outros órgãos; e o líber ou floema, composto de vasos formados por células vivas, graças às quais são distribuídos por toda a planta os açúcares elaborados nas folhas.
O crescimento ocorre nos tecidos meristemáticos, cujas células se dividem muito rapidamente e permitem que o vegetal aumente a altura ou comprimento de seu caule, nos meristemas primários, ou sua largura, nos meristemas secundários. O tecido epidérmico recobre e protege a planta, enquanto nos parênquimas se faz a fotossíntese -- elaboração da substância orgânica a partir da água e do dióxido de carbono extraídos, respectivamente, do solo e do ar. Alguns tecidos são responsáveis pelo suporte e a sustentação do vegetal, caso do esclerênquima e do colênquima. Outros podem ser qualificados como secretores. Neles são produzidas substâncias, como o látex (líquido de aspecto leitoso) das plantas euforbiáceas ou a resina dos pinhos, que, ao fluir para o exterior pelas aberturas do tronco, impede a entrada de parasitos que acabariam provocando a morte do vegetal.

Bibliografia
Célula; Glândula; Músculo; Osso; Pele
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