A
PREPARAÇÃO DE LÂMINAS HISTOLÓGICAS: FIXAÇÃO
E COLORAÇÃO
A maior parte dos tecidos não pode
ser observada in vivo. Devido a esse fato, eles devem ser submetidos a processos
de fixação para que suas estruturas morfológicas mantenham-se
preservadas. Vários processos degenerativos de autólise celular
ocorrem logo após a morte dos tecidos. Seu conjunto recebe o nome de degeneração
post-mortem. Para evitar essa autólise que inicia após a morte dos
tecidos e a própria digestão do material por bactérias decompositoras,
devem-se empregar substâncias que, ao se ligar aos principais componentes
estruturais do tecido (geralmente proteínas), mantenham a estrutura do
material a ser estudado. Esse processo de preservação dos componentes
estruturais dos tecidos denomina-se fixação. As substâncias
que executam o processo de fixação são chamadas fixadores.
O mecanismo de ação dos fixadores é pouco conhecido e todos
possuem vantagens e desvantagens. Os cientistas desenvolveram misturas empíricas
de fixadores para compensar suas principais desvantagens. Os principais fixadores
são: formol, líquido de Bouin, líquido de Helly, aldeído
glutárico e tetróxido de ósmio.
Para que os componentes
do tecido possam ser visualizados, a luz deve atravessá-los, dirigindo-se
aos olhos do observador. Isto limita a espessura dos cortes a poucos micrometros.
A fim de que os tecidos suportem o processo de corte, devem ser impregnados com
parafina ou resinas epóxi (caso o corte seja mais delgado, utilizado em
microscopia eletrônica). Esse processo chama-se impregnação.
Antes da impregnação, a peça deve passar pelos processos
de desidratação e diafanização.
Os processos histoquímicos
de coloração permitem a observação dos componentes
dos tecidos devido ao contraste que produzem ao ligarem-se distintamente a eles.
Princípios da histoquímica: o princípio básico
da histoquímica é a localização de determinados compostos
químicos a partir de técnicas de preparação. A observação
da presença destes compostos nas células pode auxiliar muito na
determinação das características celulares.
Para que
os métodos histoquímicos obtenham sucesso, são necessários
alguns requisitos básicos: o produto da reação histoquímica
deve ser insolúvel e não-difusível, para que a determinação
de sua localização seja precisa. Também é importante
que o método utilizado seja específico para a substância ou
grupo químico que está sendo analisado, para que não ocorram
conclusões equivocadas.
Substâncias basófilas e acidófilas
- HE: a principal técnica de coloração de tecidos para o
estudo de Histologia básica é a técnica HE (Hematoxilina-Eosina).
Através dessa técnica, podemos diferenciar porções
basófilas e acidófilas do tecido estudado. A hematoxilina é
basófila, ou seja, tem afinidade por substânicas básicas.
Sendo assim, ela costuma corar os núcleo e o Retículo Endoplasmático
Rugoso, locais onde há grande quantidade de proteínas (básicas
pelo seu grupamento amina). A eosina é acidófila, tendo afinidade
pelo citoplasma, fibras colágenas e outras substânicias ácidas
das células.
Localização de lipídios: Para a localização
de lipídios, são utilizados corantes que possuem alto grau de dissolução
em gorduras. Os corantes, misturados com uma solução alcoólica
saturada pela qual possuem baixo grau de dissociação, são
colocados em contato com o tecido e então transferem-se da solução
alcoólica para os lipídios. Os principais exemplos de corantes específicos
para lipídios são o Sudan IV e o Sudan Negro.
Localização
de ácidos nucléicos: A localização dos ácido
nucléicos baseia-se no método de Feulgen. Neste método, o
DNA reage com uma solução de ácido clorídrico, que
retira as bases púricas e forma grupamentos aldeídos na desoxirribose.
Então, é adicionado o reativo de Schiff (fucsina básica descorada
pelo anidrido sulfuroso) que se combina com os radicais aldeído para formar
um composto insolúvel e vermelho. Esse método possui uma proporcionalidade
entre a intensidade da coloração e o teor de DNA, de modo que zonas
mais coradas possuem maior teor de DNA.
Para mais informações
sobre o reativo de Schiff, ver a técnica de coloração PAS,
neste mesmo texto.
O RNA pode ser identificado porque possui alta basofilia
(afinidade com corantes básicos). Porém, como em determinados tecidos
existem outras substâncias de natureza basófila, é necessário
um procedimento adicional, caso se deseje localizar apenas o RNA: devem-se preparar
duas lâminas, uma contendo a enzima ribonuclease e outra sem esta enzima.
Esta enzima digerirá o RNA presente na lâmina. Então, coram-se
as duas lâminas com um corante basófilo. Fazendo-se a substração
das duas imagens, perceber-se-ão os locais onde previamente havia RNA.
Localização de polissacarídeos: A presença de
polissacarídeos pode ser determinada pela técnica do PAS (Periodic
Acid-Schiff). O ácido periódico oxida os grupamentos 1-2 glicol,
produzindo aldeídos. Estes aldeídos reagirão com a fucsina
descorada, chamada de reativo de Schiff, dando um composto de adição,
violeta e insolúvel. Através dessa técnica é possível
visualizar polissacarídeos simples ou associados a proteínas, sendo
muito utilizada nas lâminas de fígado (acúmulos de glicogênio),
estômago (camada de revestimento de mucopolissacarídeos, modernamente
chamados de glicosaminoglicanas), cartilagem hialina (glicosaminoglicanas pertencentes
às proteoglicanas da matriz).
Certas substânicias têm a
capacidade de alterar a cor original do corante pelo qual foram coradas. Chamamos
isso de metacromasia.
O
TECIDO EPITELIAL DE REVESTIMENTO
O tecido epitelial tem diversas funções
no organismo, tais como revestimento, absorção, secreção,
etc. As células geralmente são justapostas, permitindo a existência
de pouco material intercelular. Entre o tecido epitelial e o tecido conjuntivo
sobre o qual se assenta, existe uma camada chamada membrana basal. Esta é
constituída principalmente de colágeno IV, que forma a lâmina
basal, e fibras reticulares, que, penetrando no tecido conjuntivo subjacente,
competam a membrana basal.
O tecido epitelial de revestimento está
dividido da seguinte forma:
· Quanto ao formato da célula: divide-se
em tecido epitelial pavimentoso, cúbico e prismático. As células
do epitélio pavimentoso são achatadas e têm forma poligonal.
As do epitélio prismático (ou colunar, ou cilíndrico) são
altas, com forma de prismas e as células cúbicas têm formato
cúbico.
· Quanto ao número de camadas: quando todas as
células do epitélio se prendem à membrana basal, o epitélio
é dito simples. Quando apenas algumas células se prendem a ela,
o epitélio é dito estratificado, pois as demais vão se sobrepondo
umas às outras, formando vários estratos. Normalmente, as células
do epitélio estratificado prismático atingem a mesma altura, assim
como os seus núcleos também costumam ter a mesma posição
dentro da célula, formando, ao microscópio, uma linha contínua
ao longo do epitélio. Existe também o epitélio pseudo-estratificado,
no qual todas as células se prendem à membrana basal, mas não
atingem a mesma altura, dando a impressão, ao microscópio, de ser
estratificado. Os núcleos das células também não atingem
a mesma altura e, portanto, não formam uma linha contínua, como
acontece no epitélio estratificado.
Combinando
as duas classificações, obtemos uma grande variedade de epitélios:
O epitélio simples prismático é encontrado em quase todo
o tubo digestivo, revestindo o estômago, o piloro, o duodeno, o jejuno,
o íleo (intestino delgado) e o intestino grosso. Além desses órgãos,
também reveste a vesícula biliar. No epitélio de revestimento
do intestino e da traquéia (que é pseudo-estratificado), existem
células especializadas na produção e secreção
de glicoproteínas, que ficam aderidas ao epitélio. Estas células
são chamadas células caliciformes, pois possuem a forma de cálice,
ou de bulbo. As células caliciformes localizam-se entre as células
prismáticas do epitélio. Seus núcleos localizam-se na parte
basal da célula, que é bem estreita, como a rosca de uma lâmpada.
O resto da célula é quase todo preenchido por vesículas de
secreção, formando a parte larga da célula, como o bulbo
de uma lâmpada. Outra formação típica do epitélio
intestinal são as glândulas de Lieberkühn, que são invaginações
revestidas de células prismáticas, classificadas como epitélio
glandular exócrino tubular simples
AS
GLÂNDULAS: TECIDO EPITELIAL GLANDULAR
Os epitélios glandulares,
formadores das glândulas, são células especializadas na secreção
de produtos que geralmente ficam armazenados em grânulos citoplasmáticos,
cuja composição é variável. Existem diversas formas
de classificação dos epitélios de secreção,
que levam em consideração inúmeros aspectos, como, por exemplo,
a quantidade de células, a morfologia do epitélio e o modo como
os produtos de secreção são eliminados.
De acordo com
a presença ou não de ductos excretores, os epitélios glandulares
podem ser classificados em:
· Glândulas exócrinas: possuem
ductos que conduzem a secreção à superfície epitelial
livre.
· Glândulas endócrinas: o produto de secreção
é lançado no meio extracelular e transportado pelo sangue.
GLÂNDULAS
EXÓCRINAS
As
glândulas exócrinas possuem diversas formas de classificação.
Citaremos aqui algumas delas.
Classificação quanto à
ramificação do ducto:
Glândulas simples: possuem
apenas um ducto secretor não ramificado. Ex.: glândulas de Lieberkühn,
encontradas no duodeno, no jejuno, no íleo e no intestino grosso; glândulas
sudoríparas, encontradas na pele.
Glândulas
compostas: possuem um sistema de ductos ramificados que permite a conexão
de várias unidades secretoras com um ducto. Ex.: glândula mamária
e glândulas de Brunner, encontradas no duodeno.
Classificação quanto a forma de unidade secretora:
Glândulas
tubulares: a unidade secretora possui a forma de um ducto. Ex.: glândulas
de Lieberkühn, encontradas no duodeno, no jejuno, no íleo e no intestino
grosso; glândulas sudoríparas, encontradas na pele; glândulas
fúndicas, encontradas no estômago; glândulas esofágicas,
encontradas no esôfago; glândulas cárdicas, no estômago
e no esôfago.
Glândulas acinares ou alveolares: a unidade
secretora possui um aspecto mais arredondado. Apesar de modernamente os dois termos
designarem o mesmo tipo de glândula, por uma questão de tradição
o epitélio exócrino do pâncreas é exclusivamente denominado
epitélio exócrino acinar. Ex.: glândulas sebáceas,
encontradas na pele e ácinos serosos do pâncreas.
Glândulas
tubuloalveolares: são glândulas que possuem os dois tipos de unidades
secretoras, tubulares e alveolares. Ex.: glândula mamária e glândula
submandibular.
Classificação quanto ao tipo de substância secretada:
Glândulas
mucosas: produzem uma secreção viscosa e escorregadia, que não
se cora pelo HE. Ex.: glândula sublingual, que é mista, predominantemente
mucosa.
Glândulas serosas: produzem uma secreção aquosa
e límpida que se cora em vermelho pelo HE. Ex.: ácinos serosos do
pâncreas, glândula parótida e glândula submandibular
(esta última, mista, de células acinares predominantemente serosas).
Glândulas mistas: secretam os dois tipos de secreção
mencionados acima, pois possuem os dois tipos de ácinos (mucoso e seroso)
ou porque possuem um terceiro tipo, que contém componente mucoso e componente
seroso (capacete de Gianuzzi). Ex.: fígado, glândula submandibular
(com preomínio de ácinos serosos) e glândula sublingual (com
predomínio de ácinos mucosos).
Classificação quanto ao modo como a substância é liberada:
Glândulas
merócrinas: o produto de secreção é liberado através
da membrana por intermédio de vacúolos, sem a perda do citoplasma.
Ex.: ácinos serosos do pâncreas e células caliciformes, encontradas
em todo o intestino e na traquéia.
Glândulas holócrinas:
a célula secretora morre e torna-se o próprio produto de secreção
da glândula. O citoplasma inteiro é convertido em secreção.
Ex.: glândulas sebáceas.
Glândulas
apócrinas: o conceito de secreção apócrina foi desenvolvido
quando o recurso do microscópio eletrônico ainda não estava
disponível. Achava-se que determinadas glândulas perdiam parte do
seu citoplasma durante a secreção. Estas glândulas seriam
denominadas apócrinas. Contudo, o ME provou que esta perda de citoplasma
é mínima. A conclusão é que estas glândulas
apócrinas seriam realmente glândulas merócrinas. Entretanto,
em muitos livros aquele conceito ainda pode ser encontrado. Ex.: glândulas
sudoríparas de certas partes do corpo.
GLÂNDULAS
ENDÓCRINAS
Glândulas cordonais: as células dispõem-se
em cordões maciços anastomóticos separados por capilares
sangüíneos. Não há armazenamento de secreção.
Ex.: paratireóide, hipófise, ilhotas de Langerhans do pâncreas.
Glândulas
vesiculares: as células agrupam-se formando vesículas, que armazenam
os produtos secretados antes de eles atingirem a corrente sangüínea.
Ex.: tireóide.
O
TECIDO CONJUNTIVO
O tecido conjuntivo propriamente dito se apresenta
de muitas formas, as quais são caracterizdas pelos tipos de células
que as compõe. Tais células podem ser:
· Fibroblastos
· Fibrócitos
· Macrófagos
· Células
Adventiciais
· Linfócitos
· Plasmócitos
·
Mastócitos
· Células Adiposas
O fibroblasto é a célula mais abundante no tecido conjuntivo. É principal célula formadora da fibras e da substância fundamental amorfa. Geralmente, apresenta-se alongada e com algumas expansões citoplasmáticas, que se estendem para fora da célula. O citoplasma é basófilo devido à intensa atividade de síntese protéica desta célula.
O fibrócito é, na verdade, um fibroblasto adulto, que já não tem uma produção protéica tão grande como tem o fibroblasto. Geralmente, é fusiforme e tem citoplasma acidófilo, devido à diminuição da produção protéica. Também encontra-se cercado de fibras colágenas produzidas por ele mesmo e pelas células vizinhas.
O
macrófago é uma célula originada dos monócitos, que
são células do sangue. Sua principal função está
relacionada à fagocitose e pinocitose de elemetos estranhos ao organismo
e de células mortas. Possui morfologia muito variada, podendo ser fixo,
chamado de histiócito ou móvel, movendo-se por emissão de
pseudópodos. Outra forma de macrófago fixo são as células
de Kupffer, encontradas no fígado.
A
célula adventicial é responsável pela regeneração
de partes do tecido conjuntivo. Assim como a célula mesenquimatosa indiferenciada,
ela possui o poder de gerar qualquer outra célula do tecido conjuntivo.
Geralmente, encontram-se em volta dos vasos e possuem cromatina condensada.
Os
linfócitos são células do sangue presentes no tecido conjuntivo
e estão diretamente relacionados ao sistema imunológico. Podem ser
de dois tipos:
· Linfócitos tipo B (Bursa de Fabrícius):
diferenciam-se em plasmócitos e células-memória.
·
Linfócitos tipo T (Timo): diferenciam-se em células regeitadoras
de enxerto e células-memória.
Quando o macrófago fagocita
uma substância estranha ao organismo, produz interleucina, que promove a
proliferação de linfócitos T4 e T5. Estes, por sua vez, liberam
um outro tipo de interleucina que induz o linfocito B a se transormar em plasmócito,
que produzirá anticorpos. Esse mecanismo é chamado de Imunidade
Humoral. Os linfócitos T produzem também uma substância chamada
interferon, uma proteína produzida pelas células quando estas são
agredidas por vírus. O interferon age de modo a impedir a multiplicação
do vírus dentro da célula. Além disso, também diminui
a reprodução celular, sendo utilizado no tratamento do câncer.
Os plasmócitos são células originadas dos linfócitos tipo B. Têm o citoplasma basófilo, devido à intensa síntese protéica. Os plasmócitos produzem anticorpos, também chamados de imunoglobulinas, que são formados a partir de estímulos produzidos por moléculas estranhas ao organismo. Os plasmócitos também podem atacar uma célula estranha diretamente, membrana contra membrana, utilizando uma proteína chamada perfurina, que destrói vírus, bactérias, células cancerosas e células de órgãos transplantados. Este tipo defesa chama-se Imunidade Celular.
Os mastócitos são células globulosas, com citoplasma repleto de grânulos basófilos contendo diversas substâncias que atuam no desencadeamento do processo inflamatório. Os mastócitos, em pessoas alérgicas, podem conter IgE's (anticorpos) para vários antígenos que já tenham entrado em contato com o organismo. Quando um antígeno entra em contato com o organismo pela primeira vez, os plasmócitos podem produzir um IgE específico contra aquela sustância. O IgE aloja-se então na membrana do mastócito. No segundo contato com o organismo, o antígeno reage com o IgE da membrana do mastócito, provocando a sua ruptura e, conseqüentemente, a liberação de histamina e outras substâncias contidas nos mastócitos responsáveis pelo processo alérgico. Esse mesmo processo pode gerar um choque anafilático, muitas vezes fatal.
As células adiposas contém enzimas para a síntese de triglicerídios, que são a principal reserva energética do organismo. Os triglicerídios acumulam-se dentro da célula no interior de uma única cavidade. Por isso, o tecido adiposo é dito unilocular. O tecido adiposo pode ser encontrado em muitos lugares no organismo, geralmente abaixo da hipoderme.
O TECIDO CONJUNTIVO PROPRIAMENTE DITO
É
dividido em tecido conjuntivo frouxo comum e tecido conjuntivo denso.
O tecido
conjuntivo frouxo comum tem, basicamente, a função de preenchimento
e apoio para diversas estruturas. Se caracteriza por conter todas as estruturas
(células) básicas do tecido conjuntivo e por ser pouco resistente
à tração. Seus compnentes principais são os fibroblastos
e os macrófagos. Fibras colágenas também são abundantes.
O
tecido conjuntivo denso é rico em fibras colágenas. É dividido
em tecido conjuntivo denso modelado e não modelado. No tecido conjuntivo
modelado, os feixes de fibras colágenas estão arranjados numa direção
definida, o que confere ao tecido bastante resistência em trações
numa única direção. O exemplo clássico de tecido conjuntivo
denso modelado é o que ocorre nos tendões.
No tecido conjuntivo
denso não modelado os feixes de fibras colágenas não estão
orientados em uma direção definida, o que confere ao tecido bastante
resistência a trações feitas em todas as direções.
O tecido conjuntivo denso não modelado é encontrado na derme.
AS
FIBRAS
As fibras são constituintes do tecido conjuntivo responsáveis,
em grande parte, pelas diferentes características dos diferentes tipos
de tecido conjuntivo.
Existem três tipos de fibras: as fibras colágenas,
as fibras elásticas e as fibras reticulares.
FIBRAS
COLÁGENAS
O
colágeno é a proteína formadora das fibras colágenas.
Essa é uma escleroproteína constituída de duas moléculas
de tropocolágeno, que se alinham para formar a fibrila de colágeno.
Várias fibrilas unidas formam uma fibra colágena e várias
fibras formam um feixe de fibras colágenas.
Existem vários tipos
de colágenos, dos quais quatro são os mais importantes. São
eles:
· Colágeno tipo 1: o colágeno tipo 1 é o
mais comum, aparece nos tendões, na cartilagem fibrosa, no tecido conjuntivo
frouxo comum, no tecido conjuntivo denso (onde é predominante sobre os
outros tipos), sempre formando fibras e feixes.
· Colágeno tipo
2: produzido por condrócitos, aparece na cartilagem hialina e na cartilagem
elástica. Não produz feixes.
· Colágeno tipo 3:
constitui as fibras reticulares.
· Colágeno tipo 4: o colágeno
tipo 4 aparece na lâmina basal, um dos componentes da membrana basal dos
epitélios (ver início do texto O Tecido Epitelial de Revestimento).
FIBRAS ELÁSTICAS
As
fibras elásticas são formadas por uma proteína chamada elastina.
Elas costumam ocorrer em lugares como o pavilhão auditivo, o conduto auditivo
externo, a trompa de Eustáquio, a epiglote, a cartilagem cuneiforme da
laringe e nas artérias elásticas. Normalmente têm uma coloração
amarelada.
A elastina se caracteriza por formar fibras mais finas que aquelas
formadas pelo colágeno. Essas fibras cedem bastante à tração,
mas retornam à forma original quando é cessada a força. Essa
propriedade é responsável pela manutenção da pressão
sangüínea nos períodos de diástole do ventrículo
esquerdo, ou seja, quando o sangue não está saindo do coração.
As fibras elásticas não se coram bem com HE, sendo preciso recorrer
a outros métodos, como a Fucsina-Resorcina e a orceína.
FIBRAS RETICULARES
As
fibras reticulares são formadas de colágeno tipo 3. Assim como as
elásticas, as fibras reticulares não se coram bem com HE. Para a
sua visualização utilizamos a técnica DRH (Del Rio Hortega),
que as cora de preto ou castanho-escuro.
AS
CARTILAGENS
O tecido cartilaginoso, ou cartilagem, é um tipo
de tecido conjutivo cuja rigidez é intermediária entre a do tecido
ósseo e a do tecido conjuntivo denso. A cartilagem não se dobra
e é encontrada em poucos locais no corpo humano como, por exemplo, os anéis
da traquéia (lâmina 50), partes da laringe, septo nasal, e os locais
de junção das porções anteriores das costelas com
o esterno. Nas articulações do tipo poliaxial, que permitem grande
liberdade de movimento, a cartilagem está presente cobrindo a superfície
do osso, onde recebe o nome de cartilagem articular. Essa cobertura diminui o
atrito entre as superfícies e, por conseqüência, permite maior
facilidade de movimento.
A maior parte do tecido cartilaginoso que surge na
vida pré-natal é substituída por tecido ósseo. No
entanto, uma pequena quantidade de cartilagem permanece nas extremidades dos ossos,
permitindo o seu crescimento longitudinal. Estas estruturas são denominadas
discos epifisários.
Distinguem-se três tipos de cartilgem: hialina
(lâmina 14), elástica (lâminas 12 e 13) e fibrosa (lâmina
15). Entretanto, com poucas diferenças, todos os três tipos são
formados basicamente pelos mesmos constituintes.
As cartilagem são
fundamentalmente formadas por grupos de células, denominados condrócitos,
que ficam imersos em substância intercelular amorfa, constituída
por proteoglicanas (proteínas + glicosaminoglicanas), colágeno e
elastina, esta última presente somente na cartilagem elástica.
O
papel das proteoglicanas consiste em dar rigidez à cartilagem, pois estabelecem-se
ligações eletrostáticas entre as glicosaminoglicanas das
proteoglicanas e as moléculas de colágeno.
A matriz amorfa contém
muitas moléculas de água, que estão intimamente associadas
às glicosaminoglicanas (água de solvatação).
Os
condrócitos sintetizam as proteoglicanas e mantêm a matriz em seu
estado normal.
Este tipo de tecido não é vascularizado por capilares,
obtendo seus nutrientes a partir do conjuntivo que o envolve ou a partir do líquido
sinovial, no caso das cartillagens articulares. Os nutrientes difundem-se pela
água de solvatação.
O TECIDO ÓSSEO
O
tecido ósseo possui um alto grau de rigidez e resistência à
pressão. Por isso, suas principais funções estão relacionadas
à proteção e à sustentação. Também
funciona como alavanca e apoio para os músculos, aumentando a coordenação
e a força do movimento proporcionado pela contração do tecido
muscular.
Os ossos ainda são grandes armazenadores de substâncias,
sobretudo de íons de cálcio e fosfato. Com o envelhecimento, tecido
adiposo também vai se acumulando dentro dos ossos longos, substituindo
a medula vermelha que ali existia previamente.
A extrema rigidez do tecido
ósseo é resultado da interação entre o componente
orgânico e o componente mineral da matriz. A nutrição das
células que se localizam dentro da matriz é feita por canais. No
tecido ósseo, destacam-se estes tipos celulares típicos:
· Osteócitos: os osteócitos estão localizados em cavidades ou lacunas dentro da matriz óssea. Destas lacunas formam-se canalículos que se dirigem para outras lacunas, tornando assim a difusão de nutrientes possível graças à comunicação entre os osteócitos. Os osteócitos têm um papel fundamental na manutenção da integridade da matriz óssea.
· Osteoblastos: os osteoblastos sintetizam a parte orgânica da matriz óssea, composta por colágeno tipo I, glicoproteínas e proteoglicanas. Também concentram fosfato de cálcio, participando da mineralização da matriz. Durante a alta atividade sintética, os osteoblastos destacam-se por apresentar muita basofilia. Possuem sistema de comunicação intercelular semelhante ao existente entre os osteócitos. Os osteócitos inclusive originam-se de osteoblastos, quando estes são envolvidos completamente por matriz óssea. Então, sua síntese protéica diminui e o seu citoplasma torna-se menos basófilo.
· Osteoclastos: os osteoclastos participam dos processos de absorção e remodelação do tecido ósseo. São células gigantes e multinucleadas, extensamente ramificadas, derivadas da fusão de monócitos que atravessam os capilares sangüíneos. Nos osteoclastos jovens, o citoplasma apresenta uma leve basofilia que vai progressivamente diminuindo com o amadurecimento da célula, até que o citoplasma finalmente se torna acidófilo. Dilatações dos osteoclastos, através da sua ação enzimática, escavam a matriz óssea, formando depressões conhecidas como lacunas de Howship.
·
Matriz óssea: a matriz óssea é composta por uma parte orgânica
(já mencionada anteriormente) e uma parte inorgânica cuja composição
é dada basicamente por íons fosfato e cálcio formando cristais
de hidroxiapatita. A matriz orgânica, quando o osso se apresenta descalcificado,
cora-se com os corantes específicos do colágeno (pois ela é
composta por 95% de colágeno tipo I).
Existem classificações
para o tecido ósseo baseadas no seu aspecto morfológico e anatômico.
Portanto, os ossos podem ser classificados em: chatos, longos, curtos, esponjosos
e compactos. Também existem os ossos pneumáticos, que conservam
grande quantidade de ar no seu interior.
Já a classificação
baseada no critério histológico admite apenas duas variantes de
tecido ósseo: o tecido ósseo primário e o tecido ósseo
secundário, também chamado de tecido ósseo haversiano ou
lacunar.
VASOS: ARTÉRIAS E VEIAS
Convencionou-se
chamar artéria todo vaso que leva sangue do coração ao resto
do organismo; e veia, todo vaso que leva o sangue do resto do corpo ao coração.
Artérias de pequeno calibre são chamadas arteríolas e veias
de pequeno calibre, vênulas. Ainda menores que arteríolas e veias,
existem os capilares, que se relacionam mais intimamente com os tecidos, realizando
a troca de gases, nutrientes e metabólitos.
A parede dos vasos é
dividida em três camadas:
· Túnica Interna (ou Íntima):
encontra-se forrando o vaso internamente, em contato com o sangue circulante.
Na parte mais interna da túnica interna, encontramos o revestimento endotelial
dos vasos. O restante da túnica é constituído de tecido conjuntivo
frouxo e algumas poucas células musculares. Nas artérias, dividindo
a túnica interna e a média, existe uma membrana chamada limitante
elástica interna. O limite da túnica interna com a luz do vaso,
apresenta-se nas lâminas bastante ondulado, devido à contração
dos vasos por ocasião da morte do animal.
· Túnica Média:
a túnica média é formada basicamente por células musculares
lisas, envoltas por colágeno e elastina. Nas artérias existe uma
membrana separando a túnica média e a externa (adventícia),
a membrana limitante elástica externa.
· Túnica Adventícia:
na túnica adventícia há grande quantidade de fibras colágenas
e elásticas. Essas fibras penetram no tecido conjuntivo adjacente, tornando
o limite externo do vaso não muito definido.
ARTÉRIAS
·
Artérias de Grande Caibre: artérias de grande calibre geralmente
são artérias elásticas. Elas tem grande importância
no controle da pressão arterial, pois não deixam que a pressão
abaixe no período de diástole do ventrículo esquerdo. As
artérias elásticas se caracterizam por ter uma túnica interna
bem desenvolvida, com grande quantidade de fibras elásticas. Na túnica
média, é pequeno o número de células musculares lisas
e também há bastante substância elástica. A camada
adventícia é pouco desenvolvida.
· Artéria de
Médio Calibre: geralmente, são artérias musculares, que apresentam
túnica média bastente desenvolvida. Também estão presentes
fibras elásticas, cuja presença vai aumentado com o calibre da artéria
até que seja considerada uma artéria elástica e não
mais muscular.
· Arteríolas: possuem mais ou menos a mesma estrutura
das artéria de médio calibre, mas geralmente as membranas limitantes
elásticas interna e externa estão ausentes. Também a túnica
adventícia é pouco desenvolvida.
VEIAS
·
Veias de Grande Calibre: as veias de grande calibre costumam apresentar túnica
interna bastante desenvolvida, de onde costumam sair as válvulas, responsáveis
pelo direcionamento do sangue ao coração. A túnica média
é muito pouco desenvolvida, apresentando pouco tecido muscular. Já
a adventícia é muito desenvolvida. Nela, costumam aparecer os vasa
vasorum, pequenos vasos que levam nutrientes à túnica adventícia
e à parte mais externa da túnica média. Os vasa vaosrum também
ocorrem nas artérias, mas em menor quantidade, devido ao melhor potencial
nutricional do sangue arterial que por elas circula. Além disso, nas artérias,
os vasa vasorum têm abrangência restrita à adventícia.
As outras túnicas recebem nutrientes por difusão.
· Veias
de Médio Calibre: as veias de médio calibre caracterizam-se por
uma túnica adventícia mais desenvolvida que as demais camadas.
·
Vênulas: nas vênulas, a túnica íntima é formada
apenas pelo endotélio. A túnica média pode ser inexistente
ou muito pouco desenvolvida. A camada adventícia é a mais desenvolvida
e participa na troca de gases e metabólitos entre o sangue e os tecidos.
CAPILARES
Os
capilares são vasos extremamente finos que participam ativamente nas trocas
de gases e diversas outras substâncias entre o sangue e os tecidos. Diferentemente
das artéria e das veias, não são formados de três túnicas,
mas apenas de uma única camada endotelial cuja parede tem apenas duas ou
três células. Observam-se três tipos de capilares:
·
Capilares Contínuos: quando a parede endotelial do capilar é contínua.
· Capilares Fenestrados: quando as paredes das células do endotélio não estão sempre unidas, aparecendo espaços vazios, responsáveis pela grande comunicação entre o sangue e os tecidos, nesse tipo de endotélio.
·
Sinusóides: encontram-se no fígado (ao longo dos cordões
de hepatócitos), no tecido hemopoético e no endométrio (próximo
ao local de implantação do embrião). Caracterizam-se por
seguir um percurso sinuoso, com um calibre um pouco maior que o dos outros capilares.
Também sua parede não é contínua, contendo grande
quantidade de poros.
O TECIDO MUSCULAR
Existem três
tipos de tecido muscular: o tecido muscular estriado esquelético, o tecido
muscular estriado cardíaco e o tecido muscular liso. Todos eles são
bastante acidófilos, corando-se de vermelho com a técnica HE.
O
tecido muscular estriado esquelético é constituído de fibrocélulas
estriadas. Tais células caracterizam-se por serem bastante compridas e
polinucleadas, com núcleos localizados sob o sarcolema (membrana plasmática
de fibrocélulas musculares). Geralmente, estão cercadas de tecido
conjuntivo, que une as fibras umas às outras e transmitem a força
produzida pelos músculos aos ossos, ligamentos e outros órgãos
executores de movimento. Em lâminas histológicas, os feixes de fibrocélulas
podem aparecer cortados transverslamente ou longitudinalmente.
O
tecido muscular estriado cardíaco, assim como o esquelético, apresenta
fibrocélulas bastante compridas. Entretanto, elas são mono ou binucleadas,
com núcleos localizados mais para o centro da célula. Também
possuem discos intercalares, que são linhas de junção entre
uma célula e outra, que aparecem mais coradas que as estrias tranversais.
No tecido cardíaco, têm bastante importância as fibras de Purkinje,
células respnsáveis pela distribuição do impulso elétrico
que gera a contração muscular às as diversas fibrocélulas
cardíacas.
O tecido muscular liso está presente nos vasos
sangüíneos e nos órgãos viscerais, atuando no controle
autônomo do organismo. A contração das fibrocélulas
lisas é bem mais lenta que a das fibrocélulas estriadas. As fibrocélulas
lisas podem sofrer hiperplasia, ou seja, elas ainda conservam o poder de reprodução,
ao contrário das fibocélulas estriadas, que só podem sofrer
hipertrofia. As células do músculo liso apresentam-se fusiformes
e são mononucleadas.
Atlas
Eletrônico de Histologia
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